A UÉ encontra-se a capacitar a rede nacional de monitorização sísmica, permitindo assim o desenvolvimento de um Sistema de Alerta Precoce de Sismos, incluindo os gerados na região Atlântica adjacente ao território português.
Um Sistema de Alerta Precoce de Sismos, incluindo os gerados no Atlântico, vai ser instalado em quatro locais da região do Algarve, com os primeiros quatro sismómetros do país enterrados, a 30 metros de profundidade, num projeto da Universidade de Évora (UÉ). “Baseia-se no intervalo de tempo entre as ondas sísmicas primárias (designadas por P, mais rápidas) e as ondas secundárias (designadas por S, mais lentas). O intervalo de tempo é calculado a partir das velocidades de propagação das ondas P e S”, precisou a universidade em comunicado. No entanto, há que realçar “que as ondas S e de superfície são as mais destrutivas” explica Mourad Bezzeghoud, professor do Departamento de Física e investigador no Instituto de Ciências da Terra (ICT) da UÉ.
O projeto designa-se Earthquake Early Warning System (EEWS, em inglês, ou seja, Sistema de Alerta Precoce de Sismos, em português) que visa “complementar e reforçar a rede nacional de monitorização sísmica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA)”, sublinha o investigador da iniciativa.
Trata-se, ainda, de um sistema que serve para “detetar os sismos e determinar algumas das suas características, incluindo a localização e magnitude, antes que os efeitos dos fortes sismos atinjam áreas críticas” e desta forma, em tempo útil, “permitam ser decididas e implementadas medidas de proteção”, frisou Mourad Bezzeghoud.
“Quanto mais próximo estamos do epicentro, menor é o intervalo de tempo (entre P e S) e quanto mais próximo estamos do mesmo, mais graves são os estragos”, frisa o investigador da academia eborense, uma vez que, “quanto mais perto estamos do epicentro, menos tempo temos para alertar e reagir, e quanto mais longe estamos do mesmo, mais tempo temos para reagir e tomar medidas de proteção” acrescenta Mourad Bezzeghoud. O investigador sublinha que no caso português o tempo é contado em segundos ou minuto(s), “mas existem outras situações no mundo onde o tempo pode atingir dezenas de minutos ou até horas”.
É através do projeto EMSO-PT – European Multidisciplinary Seafloor and water column Observatory, financiado pelo estado português e pela Comissão Europeia, através do programa Portugal 2020, que os investigadores pretendem criar e desenvolver infraestruturas de investigação científica e tecnológica no âmbito das Ciências do Mar e do Ambiente Marinho e com isso “alargar o número de estações sísmicas em terra, melhorando a rede de monitorização sísmica nacional”.
Esta medida permite a criação de um sistema de alerta precoce para sismos, em particular, para casos de tsunami. As novas estações sísmicas ficam ligadas à unidade de investigação (ICT-UÉ) e à rede sísmica nacional coordenada pelo IPMA. “A localização e a magnitude são os principais dados através dos quais é possível desencadear algumas medidas de segurança automática em situações críticas, minimizando a destruição associada a eventos desta natureza” destaca Mourad Bezzeghoud.
O investigador recorda que numa situação semelhante à do sismo de 1969, que atingiu toda a região de Portugal, norte de Marrocos e parte de Espanha, sendo o último grande sismo a ocorrer em Portugal Continental, o sistema agora implementado “teria capacidade para registar as primeiras ondas que chegam a vários pontos junto à linha de costa, transmiti-las para um centro de cálculo onde os previsíveis efeitos desse sismo são estimados e se decide quais as medidas de proteção automática a implementar em instalações críticas, minimizando a destruição associada a este evento”.
Desta forma, o alerta precoce de sismos permite acionar mecanismos de segurança automáticos em instalações críticas, como gasodutos, comboios de alta velocidade, pontes, túneis, minimizando as perdas associadas ao sismo. “A ideia destes sistemas é ativar uma série de automatismos para avisar as forças de segurança e emergência” adianta o investigador a este respeito.
Mourad Bezzeghou recorda ainda que as placas tectónicas Euroasiática e Africana (Núbia) convergem e a mesma continua ativa sismicamente e vulcanicamente pelo que “a monitorização sísmica da região é fundamental não só para Portugal, mas também para Europa. As Quatro estações sísmicas são equipadas com sismómetros de banda larga (Guralp Posthole BB Radian, 60s) a instalar em furos a 30 m de profundidade, por forma a minimizar o ruído cultural. Para além dos sismómetros instalados em profundidade, cada estação será ainda equipada com um acelerômetro (Guralp Fortis) instalado na superfície.
Este acelerômetro “será um elemento importante para uma mais eficaz caracterização dos movimentos, principalmente em situações de sismos fortes onde os registos do sismómetro podem saturar”, explica a UÉ em comunicado. É uma componente “muito útil, em particular, para efeitos de EEWS”. A densificação da rede é fundamental para uma “localização precisa dos eventos sísmicos provenientes da região localizada a SW do Cabo de S. Vicente”, já que é desta região que se prevê que ocorram eventos com grande potencial de destruição.
“A localização desfavorável desta região sismogénica exige que se aumente a densificação da rede para detetar, localizar e calcular de forma precisa os parâmetros sísmicos, designadamente a localização e magnitude, bem como outros parâmetros envolvidos no EEWS” resume o investigador da UÉ. Recorde-se que este projeto (EMSO-PT) cujo sistema será implementado envolve o IPMA, a Câmara Municipal de Vila do Bispo, a Câmara Municipal de Aljezur, da Junta de Freguesia de Bordeira e a Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Algarve.