É comum reconhecer o povo alentejano pela sua franqueza no acolhimento e atreito a fazer amizades. O seu coração, adoçado pela sua calma e serenidade, é um porto de abrigo para quem procura uma conversa distendida com vagar. E nem mesmo em situações críticas, tão vulgares no anedotário nacional em que os tornam protagonistas, deixam de usar esse saber ouvir, encaixar e ripostar sem ofender, dando graça até ao tom jocoso que estaria subjacente.
E tudo isto para, como alentejano, me sentir honrado e com gosto em fazer amizades. Motivo que me levou ao poema que aqui se associa. E que dele se faz um Hino à Amizade, realçando esse bem inestimável, sem nos deixarmos levar por alguma desilusão, tida em circunstâncias que se evidenciaram como pouco merecedoras duma relação amiga, pautada pelos atributos que caracterizam a dita amizade.
No que respeita ao poema, que aqui se reproduz em parte, escolhemos a quadra dita popular por nos parecer aquela que, na sua pureza e simplicidade, melhor corresponde à descrição dos atributos da amizade. E por ser a que recorre a uma filosofia de vida vivida, que exalta sentimentos numa harmonia e num equilíbrio, conquistados na musicalidade e na substância do poema. Escolha propositada até por lhe reconhecermos uma boa oportunidade para uma iniciação ao gosto pela poesia, em toda a sua grandiosidade, como arte primeira da humanidade. E também porque, ao associarmos este texto ao povo alentejano e à sua maneira de cultivar a amizade, lembramos na simplicidade destes versos todos os poetas alentejanos, muitos deles “dezedores” que, fruto da sua iliteracia apenas tinham o recurso à memória e oralidade.
Ter amigo é pra estimar
Dar-lhe em retribuição
A verdade de se amar
Sem regra nem condição.
E quando é escuro o caminho
Sabe bem ter uma mão
Que suporte e dê carinho
E alumie o coração.
O valor da amizade
Não tem preço nem se vende
Sente-se mais com a idade
Quando a ilusão se rende.
Vale a pena ter amigos
É valor enriquecido
Quem os não tem por castigo
A mal anda consigo.
Só pode haver amizade
Sem lhe dar nota ou maneira
Se houver sinceridade
Toda se dê por inteira.
(inédito)
José António Contradanças
Economista / Gestor