Coronel Manuel Costa sublinha importância do CT de Alcochete na região

O Comandante, investido em outubro de 2023, em conversa com o Semmais reconhece o clima de incerteza que paira sobre o futuro do Campo de Tiro, mas destaca o sentido de “responsabilidade e o compromisso” que “caraterizam a Força Aérea”.

Que balanço faz da missão do Campo de Tiro (CT)?

Na sua imensa área (7450 hectares de utilização operacional e mais 479 sob servidão militar, tudo com um perímetro vedado de 54 km), o CT tem como missão disponibilizar à Força Aérea, aos outros ramos das Forças Armadas, às forças de segurança e às indústrias de defesa, os espaços e a segurança necessários para a execução das práticas e experiências com armamento de treino ou real, bem como a armazenagem de material de guerra. Em 2023, as infraestruturas operacionais tiveram uma ocupação superior a 90%, destacando-se a atividade ar-solo e a terrestre (superfície-superfície), que no conjunto representam mais de 80% do número de eventos, onde também se encontram incluídos os eventos dos aprontamentos para as missões. Entre março de 2023 e março de 2024 realizaram-se 582 eventos, desenvolvidos pela Força Aérea, Exército, Marinha, Guarda Nacional Republicana, Polícia de Segurança Pública e Indústrias de Defesa.

Desde que foi investido Comandante, quais têm sido as principais preocupações e desafios?

O esforço operacional da Unidade materializa-se, sobretudo, na manutenção, prontidão, disponibilização, calendarização e coordenação/controlo da utilização das infraestruturas operacionais de que dispõe: carreiras e caixas de tiro, áreas de exercícios e paióis. A intensa utilização obriga a constantes ações de manutenção, nomeadamente a reposição de espaldões das carreiras e das caixas de tiro, sendo essa uma preocupação da Unidade. Importa referir que a nossa preocupação não se restringe à manutenção da operacionalidade e em criar condições para que as forças que utilizam o CT o façam em segurança, mas também garantir a segurança das comunidades vizinhas. No ano em que comemoramos o 120.º aniversário da Unidade, temos a responsabilidade de assegurar que cumprimos a missão com dedicação, profissionalismo e excelência, mantendo viva a chama da tradição e do orgulho que nos une. Por fim, não posso deixar de mencionar o compromisso social e ambiental que assumimos, sendo que temos desenvolvido diversas ações de responsabilidade social e de sustentabilidade ambiental de forma a honrar o legado das mulheres e dos homens que serviram no CT.

Como avalia o impacto do CT na região?

O CT tem construído ao longo dos tempos uma boa relação com as comunidades locais. Desde que assumi o Comando da Unidade, a minha preocupação tem sido a de fortalecer os laços de cooperação e de amizade com as autarquias onde o CT se insere e abrir a unidade à comunidade, possibilitando que testemunhem a nossa preocupação com a segurança e com a adoção de práticas que minimizem o impacto das nossas operações sobre as populações vizinhas. Temos consciência de que as operações militares são muito exigentes e que impactam significativamente no meio ambiente, pelo que tudo fazemos para minimizar o impacto na qualidade de vida dos nossos concidadãos, bem como na enorme mancha florestal da Unidade. O CT é detentor de uma certificação ambiental – Norma Portuguesa ISO 141001:2015 – e de três certificações florestais – Forest Stewardship Council (FSC), Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC) e Modo de Produção Biológica (MPB). Estas certificações aumentam a responsabilidade e são a prova do nosso compromisso Estamos constantemente a procurar formas de melhorar as nossas operações, minimizar o uso de recursos naturais e reduzir as emissões de carbono. Devido à sua extensão e ao cuidado colocado na sua área florestal, a Unidade tem sido utilizada para desenvolver atividades desportivas organizadas pelas câmaras e entidades, que atestam a excelência deste território para atividades ao ar livre, para a realização de ações dos escuteiros e para a filmagem de documentários, filmes e séries.

Qual é o número de efetivos e de outros profissionais no CT?

Temos atualmente cerca de 150 efetivos, maioritariamente militares da Força Aérea, mas com uma representação de militares do Exército, além de trabalhadores civis. Esta Unidade tem o privilégio de unir militares da Força Aérea e do Exército na mesma missão e valores. Os militares da Força Aérea trazem consigo a perícia e a tecnologia necessárias para a realização de operações aéreas seguras e eficazes. Por sua vez, os militares do Exército têm a experiência e o treino de combate terrestre, essenciais para a realização e coordenação das atividades terrestres. Esta sinergia torna o CT mais forte e mais preparado para enfrentar os desafios e é a prova de que, quando trabalhamos em conjunto, complementando as nossas competências e conhecimentos, somos capazes de alcançar resultados de excelência e ultrapassar as dificuldades que a redução de efetivos tem colocado.

As discussões sobre a localização do futuro aeroporto preocupam, na medida em que podem ameaçar a continuidade do CT?

Os assuntos relacionados com o futuro aeroporto criam um clima de incerteza, como será natural, mas a Unidade continua a cumprir a missão com responsabilidade e o compromisso que carateriza a Força Aérea.

Que outros desafios identifica para o futuro?

Temos vários desafios pela frente que temos vindo a desenvolver. Destaco a recuperação do parque habitacional da Unidade, a melhoria constante das condições de trabalho dos nossos militares, a contínua reabilitação das infraestruturas operacionais que devido ao uso intensivo se degradam e que são o garante da segurança das operações desenvolvidas. É nosso desafio, igualmente, continuar a árdua e complexa gestão florestal com o objetivo de contribuir para neutralidade carbónica da Força Aérea e reduzir a matéria combustível na vasta área dos 7569 hectares da nossa Unidade. É importante aqui referir que a Força Aérea foi o primeiro organismo público a apresentar um roteiro para a neutralidade carbónica, comprometendo-se a atingir essa meta até 2050.