Quer seja nas televisões, jornais ou na internet os preconceitos, ataques xenófobos e/ou racistas têm estado na agenda do dia. A proliferação de comentários ou interações que temos no nosso quotidiano com amigos, família ou, simplesmente, numa mesa de café ou num grupo de Facebook, é reveladora de uma realidade atual muito preocupante: o aumento das discriminações e da intolerância. Os alvos tendem a ser ciganos ou imigrantes e assiste-se a uma crescente antipatia cultural, racial ou etária.
Inúmeras são as formas e as maneiras de excluir o outro, no entanto a discriminação contra as pessoas idosas prevalece de forma bastante flagrante na nossa sociedade e está presente no nosso quotidiano. Numa sociedade cada vez, mais grisalha e com menos jovens, parece não existir espaço e tempo para os idosos. Nas conversas, ou até mesmo nas notícias diárias, os seniores são frequentemente esquecidos. Quando se noticiam factos relacionados com veteranos, por norma, falamos de notícias onde o abandono, o medo ou miséria são a tónica dominante.
Reportagens e factos que nos lembram o quanto é trágica a velhice ou o quanto é penoso envelhecer em Portugal. O idadismo apresenta-se, então, como a mais recente forma de discriminação, resumindo-se a atitudes e práticas negativas em relação aos indivíduos, baseadas somente numa característica; a idade.
O termo idadismo (em inglês ageism) surgiu pela primeira vez em 1969, quando o psicólogo americano Robert Butler procurava explicar as reações negativas de uma comunidade à construção de um empreendimento imobiliário para pessoas idosas na sua vizinhança. Assim, como não é desejável à maioria das pessoas ter um loteamento social nas imediações das suas residências, a existência de uma valência para idosos provocou comportamentos estigmatizantes na comunidade americana.
Parece que cada vez mais, somos intolerantes e implacáveis com atitudes e comportamentos racistas, xenófobos e idadistas nas nossas vidas e na esfera do espaço privado, mas também no espaço público. Expressões como: “Nem parece ter a idade que tem” ou “Está muito bem para a sua idade”, são afirmações reveladoras desse preconceito associado ao envelhecer. Será que o velhopovo pacato e tolerante, estará a transformar-se num novo povo idadista?
Se envelhecemos desde o dia em que nascemos, então as inquietações com as pessoas mais velhas dizem respeito a todos nós. Não apenas porque partilhamos o mesmo espaço cultural, social e político, mas também porque vamos envelhecendo a cada dia que passa. Os novos de hoje, quererão ser os seniores de amanhã, olhados pela sociedade como um fardo ou encargo? É necessário dar uma dimensão humana ao envelhecimento, fazendo com que este não seja visto como um problema, mas sim como uma conquista produtiva do ser humano, que foi feita ao longo de toda a vida. A sociedade portuguesa tende a tornar-se idadista, sendo esta situação, não compatível com as mudanças sociais necessárias para garantir o futuro do país. O nosso compromisso com os direitos inalienáveis do ser humano é inabalável. Assim, convido todos/as a colocarem este assunto na ordem do seu dia, nas discussões das redes socias, nas mesas de café ou, até mesmo, nas conversas em família.
Elisabete Cavaleiro
Socióloga