Notícias, Catástrofes e Interrogações.

Os nossos dias também são feitos de notícias. E as notícias são uma forma indireta de realidade. Mas no final, como seria de esperar, está sempre a realidade. Às vezes nua e crua. A de agora é nua e crua. A realidade do turismo em particular.

No início de 2020 celebrávamos 2019 como o melhor ano turístico de sempre em Portugal (mais uma vez). Seguiram-se um janeiro e um fevereiro excelentes: mais turistas; mais receitas; muitos anúncios de novos investimentos. O resto é história… de terror (económico).

“De repente não mais do que de repente” caiu uma pandemia. Sem aviso nem previsão. Mesmo então, já em março, muitos (entre os quais eu) achámos que no verão tudo teria passado. Teria sido um breve sonho mau. Mas não foi. Essa foi a primeira lição: humildade é preciso.

As previsões das mulheres e dos homens são o que são, apenas uma possibilidade. O planeta já pertence aos humanos mas não totalmente. Chegámos assim a outubro e o grande indicador do turismo (olhar para o céu) revelou a realidade. Muito poucos aviões. Logo a ausência de turistas. Acrescentemos a esta conjuntura um número nacional, como um aviso à aviação: a TAP registou prejuízos de 582 milhões de euros só no primeiro semestre deste ano. E para não se pensar que é só em Portugal, a Eurocontrol estimou (neste início de outubro) que a indústria da aviação venha a ter, em 2020, perdas de 140.000 milhões de euros. No relatório de abril a estimativa era de 110.000 milhões de euros. Vai, por isso, piorar antes de melhorar.

O turismo representa em Portugal 132.000 empresas e os seus gestores e os seus trabalhadores. Em síntese: 320.000 empregos. É este património que não se pode perder.

Quando Portugal foi eleito, por três anos consecutivos, 2017, 2018 e 2019, o melhor destino turístico do mundo nos World Travel Awards (WTA), prémios que são considerados os Óscares do Turismo, foram estes trabalhadores e estes gestores que os ganharam. Este saber e esta experiência que fez do país turístico o que ele é hoje não pode acabar numa fila para um Centro de Emprego.

A prioridade é assim fácil de enunciar: manter as empresas do turismo e os seus saberes e experiências. A morte anunciada (não vale a pena fugir à realidade em nome de um irrealismo passivo e politicamente correto) de muitas empresas do turismo não pode incluir as melhores e o que elas conquistaram para o país.

O essencial da nossa oferta turística tem de se manter. Como? Já sabem a resposta, penso eu. O apoio do Estado é aqui e agora incontornável. Não é a ideologia. É o realismo.

Olhando e avaliando atentamente as estatísticas e os indicadores conhecidos do turismo parecem que, tudo junto, indicia que recuámos dez anos. Dez anos!

Venha bem depressa o futuro. Venha bem depressa o segundo trimestre de 2021. Até lá cerremos os dentes e apelemos à inteligência.

Turismo Semmais
Jorge Humberto
Colaborador