Rede de tráfico de meixão em Setúbal faturou milhões com o negócio

Grupo de Setúbal, chefiado por chineses e julgado por associação criminosa, usava “correios” do Mali e Malásia para levar enguias vivas por avião.

Uma rede criada na região de Setúbal por três cidadãos chineses e composta por comerciantes, “correios” e pescadores, todos dedicados ao tráfico internacional de meixão (enguia juvenil extremamente valiosa cuja captura é proibida), vai ser julgada por crime de associação criminosa, avança o JN.

Segundo o mesmo jornal, o grupo responde ainda por contrabando qualificado e dano contra a natureza. Na investigação foram identificadas transações de meixão no valor de mais de dois milhões de euros.

Os três cabecilhas da rede de 16 arguidos estão em prisão preventiva desde janeiro. Na fase de instrução, que terminou recentemente, dois tentaram fazer cair o crime de associação criminosa, afirmando que não estavam em Portugal e que só acompanhavam o seu patrão.

Também alegaram a ilegalidade de meios usados na investigação, como GPS em viaturas de suspeitos e imagens de videovigilância sem autorização judicial. O magistrado considerou que a atuação dos cabecilhas se enquadra numa estrutura organizada a que os demais arguidos aderiram. Tinham conhecimentos e meios para adquirir e preservar o meixão e até traziam da Malásia e do Mali para Portugal os “correios” com o único propósito de transportarem em malas de viagem o meixão.

A investigação começou em janeiro de 2018 com a apreensão, no aeroporto de Lisboa, de 47 quilos de meixão em malas com destino a França e à China. O Ministério Público montou uma equipa com elementos da Polícia Marítima, da PSP, da ASAE e da Autoridade Tributária, a que se juntaram o Instituto de Conservação Natureza e Florestas e a Europol.

O grupo usava armazéns na zona da Quinta do Anjo, Águas de Moura, e até uma garagem em Almada para armazenar o meixão adquirido a pescadores. De uma só vez, compraram 20 quilos em Alcácer do Sal, no valor de seis mil euros que na Ásia valeria 130 mil.

Para além dos aviões, o grupo chegou a levar as enguias vivas por terra, através de Espanha. Num episódio que a acusação descreve, os arguidos compraram ostras em Setúbal com a intenção de as exportar para a Malásia, por via aérea. No aeroporto as autoridades descobriram mais de 100 quilos de meixão vivo, no valor de 650 mil euros, dissimulado no carregamento de ostras.

Ao perceberem que estavam a ser vigiados, os arguidos deitaram fora cerca de 200 quilos de meixão que tinham nos armazéns, valendo 1.3 milhões de euros. Os lucros eram transformados em moeda virtual, que depois seguia para contas bancárias ligadas aos arguidos.