Intitulada “O Campo de Chão Bom”, o espetáculo foca-se na reabertura do Tarrafal e na história dos nacionalistas africanos ali encarcerados, estreia e apresenta uma abordagem multidisciplinar sobre este campo de trabalho.
O texto da peça, inspirado no livro “O Diabo foi meu Padeiro”, do escritor, músico e ex-ministro da Cultura de Cabo Verde Mário Lúcio, que vai ter uma participação especial na peça, conta a história dos nacionalistas africanos encarcerados no Campo do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, por se oporem ao regime colonialista da ditadura do Estado Novo.
O espetáculo foca-se na segunda fase da história do Campo do Tarrafal, que voltou a abrir, em 1961, para “enclausurar nacionalistas africanos que lutavam pela independência” de Cabo Verde, explicou Lusa a jornalista e autora da peça, Paula Torres de Carvalho.
“Quando o campo do Tarrafal reabriu, por ordem do ministro do Ultramar da altura, Adriano Moreira, para enclausurar os nacionalistas africanos, ficou com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, que é uma localidade do norte da ilha de Santiago, em Cabo Verde”, referiu.
Em palco, os vários géneros artísticos vão expressar “o sofrimento e a resistência dos presos africanos que se opuseram ao regime do Estado Novo e que foram deportados para o Tarrafal”, avançou em comunicado o município de Grândola.
“A narrativa deste espetáculo multidisciplinar, que reúne em palco vários géneros artísticos, desde a música ao vivo, à dança, teatro, poesia, artes circenses e vídeo, regista memórias da época anterior, entre 1936 e 1962, quando ali estiveram detidos antifascistas portugueses”, sublinhou ainda a autarquia.
O elenco é composto por um “grupo intergeracional” de artistas profissionais e amadores de “ilustres cabo-verdianos, guineenses, angolanos e portugueses”, indicou a autora, acrescentando que o Ministério da Cultura “já reconheceu o manifesto interesse cultural” do espetáculo.
“Isto faz parte da memória histórica de Cabo Verde e de Portugal naquilo que respeitou a luta contra a ditadura, e é um dever de memória relativamente a todos aqueles que estiveram presos e morreram no Tarrafal”, antiga colónia penal portuguesa.
Para o trabalho de pesquisa, a criadora contou também com “o contributo” de um ex-prisioneiro do Tarrafal, Jaime Schofield, que forneceu “o seu testemunho na recolha de informação”.
A produção conta igualmente com a participação de “um grupo de dançarinos, um grupo de teatro, um grupo de músicos que vão tocar ao vivo e do coro Voz Terra”, dirigido por Heloísa Monteiro, estando previsto “cerca de 40 pessoas em palco”.
Com texto de Paula Torres de Carvalho, direção artística de Pascoal Furtado, professor do Chapitô, e direção musical do violinista António Barbosa, esta “viagem” às histórias do também designado “campo da morte lenta”, conta com a voz principal da cantora Sofia Carvalho, sobrinha neta do conhecido poeta cabo-verdiano Ovídio Martins.
O espetáculo, que é apresentado no dia 12 de fevereiro, às 21h00, na sala multiusos do Parque de Feiras e Exposições de Grândola, tem o apoio da Câmara Municipal de Grândola e da Direção Regional de Cultura do Alentejo.