Trabalhadores agendam greve contra despedimento na Carl Zeiss de Setúbal

Dezenas de trabalhadores da fábrica de lentes oftálmicas Carl Zeiss, em Setúbal, aprovaram hoje uma greve parcial, em data a anunciar, em protesto contra a intenção da empresa de avançar com um despedimento coletivo de seis trabalhadores.

 A decisão foi tomada numa concentração junto à empresa em que os trabalhadores consideraram não haver qualquer razão plausível para um despedimento coletivo, que, alegadamente, visa apenas afastar delegados sindicais e os funcionários que mais têm contestado a intenção da Carl Zeiss de avançar para a laboração contínua.

“O que se passa aqui na Carl Zeiss de Setúbal é um despedimento coletivo de seis trabalhadores, que não tem ponta por onde se pegue”, disse à agência Lusa o coordenador da União de Sindicatos de Setúbal (USS), Luís Leitão.

“A empresa anda há cerca de um ano a implementar a laboração contínua, mas não consegue porque isso não está previsto no Acordo de Empresas (AE) e não se justifica qualquer regime de laboração contínua na ótica”, acrescentou Luís Leitão, salientando que o verdadeiro objetivo da empresa é “deixar de pagar o trabalho extraordinário”.

 De acordo com o coordenador da USS, o processo de despedimento coletivo abrange seis trabalhadores – dois delegados sindicais, dois trabalhadores que mais se têm manifestado contra a laboração contínua e mais dois que estão com baixa de longa duração -, porque a empresa precisava de um mínimo de cinco trabalhadores para poder avançar com o referido despedimento coletivo.

Não é um despedimento coletivo é um despedimento muito seletivo”, frisou o sindicalista da USS, salientando que o setor da ótica em Portugal “não tem regime de laboração contínua”.

De acordo com a USS, a Carl Zeiss tem atualmente 127 trabalhadores e quer contratar mais 33, pelo que o despedimento coletivo só se pode entender como um processo que visa efetivamente afastar dois delegados sindicais e trabalhadores mais reivindicativos.

A deputada do PCP eleita por Setúbal, Paula Santos, marcou presença na concentração de trabalhadores da Carl Zeiss e defendeu que o despedimento coletivo visa “afastar trabalhadores que sejam incómodos, trabalhadores que foram reivindicativos e delegados sindicais”.

“Mas a nossa Constituição protege os direitos laborais e protege os direitos sindicais”, frisou a deputada comunista, que considerou o despedimento coletivo na Carl Zeiss em Setúbal “um profundo desrespeito pelos direitos que estão consagrados na legislação portuguesa”.

Paula Santos referiu ainda que o PCP já questionou o Governo sobre o despedimento coletivo na fábrica da Carl Zeiss e reiterou a ideia de que se trata de um “desrespeito pela legislação portuguesa, que tem de ser travado”.