Comunidade científica, desafiada pela AML, está a estudar fatores diversos que interferem negativamente no estuário do Tejo.
“Do estuário do Tejo ao canhão de Lisboa, conhecer para valorizar”. Este foi o tema de um workshop organizado pela Área Metropolitana de Lisboa (AML), onde se incluem os nove concelhos da península de Setúbal, e que visou encontrar soluções de carácter científico capazes de recuperar e preservar algumas das zonas ribeirinhas do rio.
“O mais importante em relação ao estuário do Tejo é determinar medidas integradas de gestão e identificar projetos que possam ser concretizados. É preciso aprofundar o conhecimento do estuário e zonas oceânicas adjacentes ao rio e identificar os seus principais constrangimentos”, explicou ao Semmais o professor Lino Costada Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Lino Costa, que participou no workshop juntamente com Yorgos Stratoudakis, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), e André Fortunato, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, disse que os principais problemas já identificados são a artificialização das margens (suscetível, por exemplo, de causar inundações), a poluição que pode ser provocada através da agricultura, as antigas bolsas de poluição que ainda subsistem em alguns dos aglomerados urbanos ribeirinhos e a exploração dos recursos naturais.
“Atualmente os problemas no estuário do Tejo são bem menos significativos do que há uns anos. Houve uma melhoria significativa na sua qualidade, o mesmo tendo acontecido, no rio Sado. No entanto, há questões que subsistem e cuja resolução é imprescindível”, adiantou o perito.
Especialistas destacam pela negativa poluição no Barreiro
Em relação à poluição, Lino Costa referiu os casos antigos relacionados com as baías da margem Sul, destacando pela negativa a situação do Barreiro. “São casos de poluição há muito identificados, mas que ainda não foram erradicados”, acrescentou. Depois, reportando-se às questões da artificialização das margens, que basicamente tem a ver com a construção, o mesmo perito disse que esse é um problema que afeta, sobretudo, o lado Norte do rio e já fora do concelho de Lisboa.
No que toca aos recursos naturais, as preocupações incidem, sobretudo, na apanha ilegal de ameijoa japonesa e meixão. Estas duas espécies são, por norma, capturadas nos concelhos do Montijo e Alcochete, movimentando umas dezenas de pessoas que atuam ilegalmente. “Trata-se de um caso de polícia, porque não obedece às regras fiscais, mas também pode ser uma eventual questão de saúde pública”, sublinhou. A discussão deste tema, sob o título “Não à imigração da biodiversidade”, foi levantada por Paula Chainho, que reportando-se às espécies invasoras (no caso a ameijoa japonesa) lembrou que as mesmas só existem porque alguém as trouxe e que as mesmas podem causar um impacto muito negativo no rio.
Por fim, acerca do canhão de Lisboa, localizado a 13 quilómetros da foz do Tejo, com mais de 37 quilómetros de comprimento e 120 metros de profundidade (junta-se ao canhão de Setúbal a uma profundidade de 2010 metros), Lino Costa salientou que ainda é pouco conhecido, apesar de todos reconhecerem que pode interferir decisivamente na biodiversidade do estuário, podendo causar grandes danos às várias espécies, sobretudo se contribuir para a acumulação de detritos lançados à água. “As espécies estão dependentes do canhão em termos alimentares e, por isso, importa agora saber quais são as pressões a que o estuário está sujeito, para que se possa recuperar o que já está mal e preservar o que tiver de ser preservado. É preciso monitorizar e conhecer para depois serem decididas medidas integradas de gestão”, adiantou.