Depois de um longo período à frente dos destinos do Politécnico de Setúbal, Pedro Dominguinhos faz um balanço desta sua missão e aponta ao futuro da instituição. São muitas metas atingidas e um reconhecimento a todos os títulos meritório. Depois de servir a causa pública vai voltar às aulas.
Agora que está a terminar este longo período à frente do IPS qual é a sensação?
Disse no discurso de posse, há oito anos, que ‘estou presidente’. Estar presidente de uma instituição como o Politécnico de Setúbal significa estar ao serviço do interesse público, das várias partes interessadas que o compõem, quer internas quer externas, e da região. O sentimento é de dever cumprido, mas também de grande privilégio por ter servido uma instituição com a relevância do IPS.
Em jeito de balanço, como encontrou e como vai agora deixar à sua sucessora o projeto IPS?
O IPS possui uma história com mais de 40 anos onde, em cada presidência, foi possível acrescentar sempre mais ao mandato anterior. Em 2014 estávamos a terminar o período de restrições impostas pela intervenção da troika, com fortes impactos na redução do financiamento, bem como do número de estudantes. Apesar destas restrições, tinham-se lançado as bases ao nível da definição de uma política de investigação, de qualificação do corpo docente através da obtenção do grau de doutor, bem como da aposta na internacionalização e na aproximação às organizações da região. Atualmente, o IPS afirmou-se no panorama do ensino superior em Portugal, para além de se constituir como um parceiro central na estratégia de desenvolvimento regional.
Isso implica uma grande implantação e o ‘sair de portas’…
De facto. Estamos implantados em toda a região da Área Metropolitana de Lisboa e também no Alentejo Litoral, atuando desde Sines até Vila Franca de Xira. A nível internacional estamos incluídos no lote restrito das Universidades Europeias, projeto da União Europeia que pretende criar as novas bases do ensino superior na Europa. O IPS é hoje uma instituição fortemente implantada a nível regional, mas também a nível nacional e com projeção internacional.
Há certamente momentos decisivos que lançaram o prestígio hoje reconhecido em grande escala. Consegue defini-los?
As conquistas do IPS devem-se a um trabalho empenhado e profissional dos vários atores académicos, em particular dos docentes e dos trabalhadores não docentes. O seu compromisso deve ser destacado e é a chave do sucesso alcançado, aos quais acrescento os diplomados, os nossos embaixadores e que têm cada vez maior destaque a nível profissional. Isto é possível devido à qualidade dos nossos cursos e da inovação pedagógica que tem vindo a ser desenvolvida, traduzida na segunda maior taxa de empregabilidade entre todos os politécnicos.
São marcas de diferença…
E que se reforçam ano após ano. Mas há um segundo pilar que se prende com a integração na Universidade Europeia E3UDRES2, que nos permite estar nos 5% das instituições a nível europeu que integram este projeto inovador na UE. E ainda um terceiro pilar, que reside no forte compromisso com a região, procurando responder aos desafios colocados pelos parceiros, traduzido, por exemplo, na participação do projeto Nosso Bairro Nossa Cidade, no Estudo sobre o Mercado do Livramento, ou na criação da nova escola superior em Sines, para responder aos desafios no Alentejo Litoral. Sem esquecer o pilar que radica nos projetos de investigação a nível europeu e na prestação de serviços em Portugal e nos países lusófonos, e um outro que expressa a capacidade de inclusão que o IPS demonstra, dando resposta à formação ao longo da vida e a públicos menos tradicionais, em especial os provenientes do ensino profissional e maiores de 23.
Deixa, por exemplo, em andamento o processo da nova escola de Saúde (ESS) e números recorde de alunos, são outras duas bandeiras deste seu trajeto?
Não sei se são bandeiras, mas constituem objetivos concretizados. A ESS já devia ter um edifício próprio. Foi possível, agora, através do PRR encontrar financiamento para que a construção das instalações seja uma realidade a curto-prazo. Acrescento também o alargamento da intervenção do IPS a nível regional, quer para a zona Norte da AML, com a lecionação de CTeSP, mas sobretudo para o Alentejo Litoral. A dinâmica do IPS nos últimos anos permitiu um crescimento significativo no número de estudantes, com um crescimento de 60% desde 2014, tendo ultrapassado os 8.200 no final de 2021. Este crescimento consolidou-se em todos tipos de curso. Desde a criação dos CTeSP em 2014, são já mais de 1100 os estudantes neste tipo de formação, número semelhante nos Mestrados, que mais que duplicou. Ao nível das Licenciaturas são quase 6.000 os estudantes que frequentam os cerca de 30 cursos que oferecemos.
Falou há pouco na expansão internacional do instituto. Que balanço faz dessa investida?
É um orgulho, porque são mais de 25 projetos europeus que o IPS desenvolveu ou está a desenvolver, com forte destaque para o Horizonte 2020 e ERASMUS. Falamos de projetos altamente competitivos, em que o IPS coordena ou participa, desenvolvendo produtos inovadores, obtendo patentes em alguns casos, que contribuem para a criação de novo conhecimento. Mas esta participação estende-se ainda a intervenções no sistema educativo de Angola e Guiné Bissau, com os projetos PAT (Aprendizagem para Todos), PRECASE e RETFOP, cujos objetivos residem na formação de professores nesses países, criação de referenciais e de cursos de ensino básico e superior e ainda na capacitação dos atores do sistema educativo. No campo do apoio ao empreendedorismo e criação de empresas, o IPS está a desenvolver o projeto ENVOLVER, em Angola, atuando ao nível da capacitação dos empreendedores, sistema judicial e entidades de apoio à criação de empresas. Para além do importante contributo financeiro que estes projetos trazem para o IPS, que chega aos 5 milhões de euros, representam acima de tudo o reconhecimento das competências dos docentes do IPS.
Com esta performance, até onde pode ir a dimensão do IPS no quadro de referências do ensino em Portugal?
É um caminho que, como referi, está a ganhar escala. Os projetos definidos no âmbito do PRR com o projeto SONDA2020 – Smart Open Networks for Development Acelleration – catapultam o IPS para um patamar mais abrangente e incisivo em toda a região, onde a criação da nova Escola Superior em Sines assume um papel de destaque. Por outro lado, a afirmação internacional do IPS, quer através da participação na Universidade Europeia E3UDRES2, quer ainda através da mobilidade internacional e dos cursos de dupla titulação com Universidades do Brasil e da Polónia, fazem-nos acreditar que será possível o IPS alcançar os 10 mil estudantes.
O que falta agora, num futuro próximo e que desafios espera o IPS para a consolidação destes últimos anos?
No curto-prazo, fruto dos compromissos assumidos no âmbito das candidaturas ao PRR, destaco quatro grandes desafios; construção do edifício da Escola de Saúde, criação e construção da nova escola em Sines; remodelação e ampliação da Residência de Estudantes em Setúbal e construção das novas residências no Barreiro e em Sines e, por fim, participação nas agendas mobilizadoras nas áreas da aeronáutica, automóvel, produção 4.0 e também do porto de Sines. Outros desafios estão devidamente identificados pela Professora Ângela Lemos, presidente eleita, no seu plano de Ação – “Consolidar o Presente para construir um futuro sustentável” que é quem deve responder no futuro.
O peso que o IPS ganhou também o levou a ser convidado a assumir outros cargos a nível nacional. Que comentário lhe merece…
Durante os últimos quatro anos tive o privilégio de desempenhar a função de presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, fruto da confiança que os meus colegas depositaram em mim. Foi um período de forte afirmação do sistema Politécnico a nível nacional e internacional, fruto do excelente trabalho desenvolvido pelas instituições, consolidando o seu papel central na coesão e desenvolvimento regional, mas também na inclusão de públicos não tradicionais no ensino superior. É de sublinhar que atualmente o ensino Politécnico está presente em mais de 120 concelhos do país, revelador da sua capilaridade, com um Ensino Superior de proximidade. O número de estudantes cresceu 26%, tendo alcançado os 126 mil, e os diplomados aumentaram de 18 mil para 25 mil ao ano. O sistema Politécnico é o que mais atrai estudantes internacionais para as diversas regiões do país, ultrapassando os 2500 ao ano. Ao nível da investigação, cresceram de forma robusta os centros de investigação acreditados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, chegando ao 30 os financiados, sendo cerca de 35% classificados com Excelente ou Muito Bom. Por fim, mas não menos importante, existe hoje um maior compromisso com as regiões, através do desenvolvimento de projetos com impacto, na investigação aplicada, na capacidade de formar pessoas qualificadas que facilitam a atração de empresas para esses territórios, mas também no desenvolvimento de atividades culturais, sociais e de responsabilidade social. Esta atuação provoca um impacto económico direto e indireto robusto, que pode chegar quase aos 10% do PIB concelhio. Num estudo recente, as conclusões mostram que por cada euro recebido do Orçamento de Estado, os Politécnicos devolvem à sociedade 3,51 euros, sinónimo da elevada reprodutividade do investimento no ensino superior. Todas estas conquistas necessitam de ser consolidados, reconhecendo-se aos Politécnicos a possibilidade de outorga do grau de doutor, pois possuem as condições exigidas pela lei para a sua atribuição.
CAIXA 1
A relação do IPS com as empresas e com as entidades públicas também registou uma nova dimensão. Era um dos eixos da sua estratégia?
No lema das minhas candidaturas, assumia-se que o IPS deveria ser um parceiro da região. Ser parceiro, significa desenvolver projetos em parceria com os vários atores, empresas, autarquias, IPSS, Misericórdias ou entidades públicas. Destaco alguns projetos emblemáticos como o Upskill, em parceria com o IEFP e a APDC, para requalificar pessoas para as áreas das Tecnologias de Informação. As parcerias com as autarquias no Nosso Bairro Nossa Cidade, em Setúbal, na praia acessível em Sesimbra e Setúbal, que permitiu que estes dois municípios fossem destacados como tendo a Praia Mais Acessível, a nível nacional, em dois anos, a participação nos projetos Escolhas com as IPSS, ou então todo o trabalho desenvolvido durante a pandemia com as instituições de saúde, IPSS, Misericórdias na produção de álcool gel, parceria com a Casa Ermelinda Freitas, e viseiras.
A nível empresarial a parceria desenvolvida a Deloitte no programa Brigshstart que permitiu que a empresa anunciasse a criação de um escritório em Setúbal que pretende recrutar até 150 pessoas nos próximos dois anos. O desenvolvimento do cluster aeronáutico em Setúbal e Grândola, alicerçado na LAUAK, contou desde o primeiro momento com a pareceria do IPS, quer na criação de cursos para responder às necessidades de formação, desde CTeSP, passando pela Licenciatura e Pós-graduação, até projetos de investigação em parceria que permitiu a certificação pela AIRBUS de equipamento desenvolvido em conjunto. Existem também inúmeros projetos na área da mobilidade elétrica e da certificação energética, para além de muitos outros no desenvolvimento de estudos estratégicos para empresas.
O IPS assumiu ainda um papel relevante através da participação em associações regionais, sendo membro do Conselho de Administração da S.ENERGIA, da ENA e do SINESTECNOPOLO e presidente da Assembleia Geral da ADREPES e da AISET.
CAIXA 2
Do serviço à causa pública ou regresso às aulas
Pedro Dominguinhos diz que “estar presidente” significou um “enorme privilégio” de servir a causa pública. “Foram oito anos de enormes aprendizagens, de desenvolvimento de competências e de criação de laços e relações de cooperação a nível institucional. Foi um período que me permitiu aprofundar o conhecimento sobre o Ensino Superior e participar nas discussões da política de ensino superior a nível nacional e europeu”. Por outro lado, afirma o responsável, foi também importante para “desenvolver um conhecimento aprofundado sobre a região” e, em “estreita articulação com a AMRS, a AISET, os deputados e outros atores do território, conseguirmos que o Governo apresentasse uma proposta de criação de uma NUT II para a península de Setúbal”. E garante que a função que desempenhou “significa ter presente que sou professor do ensino politécnico por isso, no dia 27 de abril voltarei à Escola Superior de Ciências Empresariais”.