André Martins diz que fecho da urgência do CHS reflete falta de investimento no SNS

O presidente da câmara de Setúbal vê “com preocupação” o encerramento da urgência de obstetrícia do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) durante 21 dias do próximo verão, que considera ser um problema resultante da “falta de investimento” na saúde.

“A câmara municipal tem uma grande preocupação com a situação que se está a viver no CHS e que é reflexo, como já referi em anteriores ocasiões, da falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, disse à Lusa André Martins (CDU), que se escusou a fazer mais comentários.

O diretor do serviço de Obstetrícia do CHS, José Pinto de Almeida, revelou no domingo ao canal de televisão SIC que a urgência de obstetrícia vai encerrar durante 21 dias (nove dias em julho, seis em agosto e seis em setembro), dado que a sua equipa médica está “desfalcada” – tem apenas oito dos 23 especialistas que deveria ter ao serviço – e “50 a 70% das escalas” são preenchidas com recurso a médicos tarefeiros.

Tal como o presidente da autarquia de Setúbal, o presidente da Comissão Política Distrital do PSD e ex-vereador, Paulo Ribeiro, disse estar “surpreendido” com o encerramento da urgência de obstetrícia do CHS durante 21 dias, face às recentes declarações do primeiro-ministro.

“Curiosamente, no dia em que também ficámos a saber que o senhor primeiro-ministro tinha dito que, a partir de hoje, segunda-feira, parte dos problemas estariam resolvidos, somos confrontados com esta notícia, do diretor do Serviço de Urgências de Obstetrícia do hospital de Setúbal (José Pinto de Almeida), de que, nos meses de verão, a Urgência de Obstetrícia ainda vai estar mais vezes fechada do que esteve no mês passado – os tais 21 dias (de encerramento)”, disse Paulo Ribeiro.

“Nós lamentamos que este Governo, que se assume sempre como se fosse o fiel guardião do SNS, esteja a ser cada vez mais o seu coveiro, obrigando os utentes a procurar outras alternativas junto das instituições privadas, sabendo nós que são os mais pobres quem paga em primeiro lugar, porque são eles que sofrem por não terem acesso a essas instituições privadas”, frisou.

Para o dirigente do PSD de Setúbal, os mais pobres são também os que mais sofrem devido à alegada “incompetência política, má gestão e ausência de planeamento” e à “falta de resposta capaz do Governo”.

Paulo Ribeiro lembrou ainda que o PSD também tem alertado várias vezes para os problemas gravíssimos do SNS e, particularmente, do hospital de Setúbal.

“O que nós exigimos é que, quer o Governo, quer o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Setúbal, tomem medidas urgentes e atempadas que evitem o encerramento da urgência de obstetrícia durante o verão. Há medidas conjunturais e estruturais. As medidas estruturais – dar melhores condições aos médicos e planear melhor a gestão de recursos -, este Governo já teve tempo de as tomar há muitos anos, porque há sete anos que o PS está no Governo”, concluiu o líder distrital do PSD.

O deputado e vereador do PS na Câmara de Setúbal, Fernando José, reconhece que a situação em causa no CHS é um “problema estrutural”, mas salienta o facto de a ministra da Saúde já ter anunciado a abertura de mais de 1.600 vagas para médicos recém-formados.

“Foi anunciada a abertura de 1.639 vagas para a colocação de médicos recém-especialistas, dos quais 50 serão na especialidade de ginecologia e obstetrícia, e, portanto, há aqui uma tentativa de melhorar um problema que é estrutural e para o qual a solução que tem que ser encontrada, uma solução de médio e longo prazo, terá obviamente de ter um enquadramento com todas as forças: Governo, partidos políticos, mas também os sindicatos e a Ordem dos Médicos. Tem que haver aqui efetivamente uma força conjunta no sentido de resolver um problema estrutural e que se arrasta há muito tempo”, disse.

“A senhora ministra da Saúde anunciou esse plano de contingência e anunciou medidas específicas dirigidas ao reforço do Serviço Nacional de Saúde e ao aperfeiçoamento da sua coordenação. Nesse sentido, foi constituída uma comissão para acompanhamento de resposta nas urgências, nomeadamente de Ginecologia e Obstetrícia e dos blocos de partos nos hospitais. E não nos podemos esquecer que passámos – embora não sirva de justificação para tudo – dois anos com o nosso SNS a combater uma pandemia e a dar uma resposta positiva, apesar de todas as dificuldades”, acrescentou o deputado e autarca socialista eleito em Setúbal.