Ecónomia portuguesa e a falácia dos descontos

Nos últimos anos, temos assistido a uma tendência crescente no nosso mercado nacional, os descontos e promoções como estratégia para atrair consumidores.

No entanto, esta prática, longe de ser uma solução real para a acessibilidade dos bens e serviços, esconde uma falácia que merece ser analisada com alguma atenção.

A ideia de que as empresas estão a oferecer benefícios significativos através de descontos não é apenas enganosa, como, mas também perpetua um ciclo de infl ação e insatisfação do próprio consumidor.

O Aumento dos preços e a realidade dos descontos é inegável, mas aquilo que o simples cidadão se vai apercebendo é de que os preços de bens e serviços têm vindo a aumentar de forma constante.

Essa ascensão de preços não é, muitas vezes, acompanhada com uma lógica de custos reais, mas sim de uma estratégia de marketing que visa maximizar os lucros. Ao invés do que seria satisfatório efetivamente baixar os preços para refl etir o valor que os consumidores estão dispostos a pagar, as empresas optam por artifícios de descontos para criar a ilusão de que os consumidores estão a obter uma vantagem. A realidade é que muitos consumidores não utilizam os descontos disponíveis.

Seja por desconhecimento, falta de tempo para aproveitar as promoções, ou simplesmente porque o produto desejado não está sujeito a essa oferta, uma grande parte dos descontos oferecidos não se traduz em um benefício real. Assim, continuamos a gastar mais do que efetivamente devemos, enquanto os preços base permanecem inflacionados.

A Armadilha do Consumismo para além disso, esta prática incentiva uma cultura de consumismo onde os consumidores se sentem pressionados a comprar impulsivamente, na expectativa de que estão a fazer um “bom negócio”.

Vejamos um exemplo pratico; 100€ voltam sempre! Por cada 500€ de compras desconto direto de 100€, podes ganhar até 500€, só na empresa X.

Mas a verdade é que, ao invés de melhorarem a situação financeira dos consumidores, leva-os muitas vezes a contribuir para um ciclo de gastos desnecessários, alimentando a necessidade das empresas de aumentar continuamente os preços.

As empresas, por sua vez, continuam a usar a estratégia de descontos como uma forma de mascararem o problema. Ao invés de refl etirem sobre as suas práticas de preços e escolherem uma abordagem mais transparente e justa, optam por manter os preços elevados e a promover os descontos como se fossem uma maneira de benefi ciar o próprio consumidor.

Economicamente estamos em querer que poderia existir uma abordagem mais eficiente, em vez de se desviar a atenção da questão central para os altos preços e a promoção de descontos que muitas vezes não são utilizados, seria mais efi caz e benéfico para a economia que as empresas fizessem uma verdadeira revisão de preços.

A redução real dos preços permitiria uma maior acessibilidade aos bens e serviços, melhorando a satisfação do consumidor e contribuindo para uma economia mais saudável.

Esta abordagem não apenas aumentaria a lealdade do consumidor, mas também incentivaria uma economia circular onde os recursos são utilizados de maneira mais eficiente.

Os consumidores valorizariam mais os produtos e empresas que se preocupassem com a justa relação preço-qualidade, em vez de serem apenas atraídos por promoções temporárias.

Em jeito de conclusão, o desagrado face à estratégia dos descontos é mais do que justificado.

Em vez de continuarmos a alimentar esta falácia, deveríamos exigir maior transparência e sensatez nas práticas de formação de preços. A verdadeira solução para a insatisfação dos consumidores reside na redução autenticada dos preços, que permitirá a todos um acesso mais equitativo aos bens e serviços, e não numa mera ilusão de sucesso através de descontos enganadores.

O futuro da economia depende da nossa capacidade de deixar para trás a armadilha dos descontos e reivindicar um mercado mais justo e acessível.

Acredito que todos nós sairíamos a ganhar em Portugal.

Carlos Cardoso – Gestor