Na reta final da campanha eleitoral subsiste uma enorme incerteza quanto aos resultados destas legislativas precipitadas por um assunto pessoal do primeiro ministro. Por mais que diga, foi o ‘caso spinumviva’ que nos conduziu à instabilidade presente, que promete durar.
Mas para além das questões que rodeiam as questões éticas que podem (ou não) abalar a credibilidade de Luís Montenegro, há uma avaliação a fazer de um Governo que diz ter feito mais em onze meses do que o seu antecessor terá feito em oito anos.
E já que vamos escolher, importa aferir se a AD merece continuar a governar ou se, pelo contrário, é preciso mudar de rumo.
Na verdade, a governação da AD não mostrou nenhum sentido estratégico para o nosso futuro coletivo e baseou a sua ação numa narrativa de “herança pesada”, de “muito trabalho” e oferecendo um pouco de tudo a todos. Dir-se-á que o tempo foi escasso, que o melhor virá a seguir, e que a oposição não está madura para a chamada alternância democrática.
Mantenho o que sempre defendi: Quem ganha (por um ou mais votos) deve ser chamado a formar governo – com alianças ou acordos de incidência parlamentar – e que as legislaturas devem chegar ao fim, para que possam ser avaliadas de quatro em quatro anos. Por isso, este Governo não devia ter caído, a não ser por razões extremas.
Todavia, estes onze meses não nos trouxeram nenhuma inversão no que toca à melhoria de vida dos portugueses, das famílias e das empresas, da visão estratégica e da economia.
A saúde está na mesma ou pior ainda, a habitação continua sem soluções e a agravar-se para os mais jovens e sobretudo para a classe média, os problemas crónicos da educação estão mascarados e, só para focar no essencial, a economia parece estar a arrefecer. O resto é insípido, acrescendo a vislumbres de uma política liberal que parece caminhar para corroer o já de si desgastado estado social.
Mas houve anúncios, boas vontades, muita propaganda e, pior que isso, falta de humildade de um Governo que quer ser de todos e para todos. Pode mesmo dizer-se que o velho PSD, que já deu muitos quadros à gestão da coisa pública, é hoje liderado por uma geração mediana, sem rasgo, mas com habilidade política.
Não sei se a oposição está totalmente preparada para enfrentar este impasse na nossa vida coletiva, lidar com o agudizar das inúmeras incertezas que pairam por esse mundo fora e capaz de apresentar alternativas de confiança.
Mas sei que este domingo devemos não só avaliar o homem que deixou enrolar vida e interesses privados com a função de primeiro ministro, mas também o que o seu Governo acrescentou ao país, bem como as políticas que estão na forja caso seja guindado a um novo mandato e ainda com mais força.
A escolha é de cada um de nós, e a melhor delas é mesmo votar, dando expressão a uma das conquistas fundamentais da nossa tão periclitante democracia.