Não se pode negar que Setúbal mudou nos últimos anos. No tempo de Mata Cáceres também mudou, durante os seus 16 anos de mandato. Muito do que fez, não se vê. Fez saneamento básico (muito), a ETAR, estradas e viadutos, habitação social, escolas, etc. Não tinha uma estratégia para Setúbal, mas fez o que se esperava dele. Os Setubalenses deram-lhe maiorias, até que deixou de corresponder e mudaram em 2001.
Mudaram com convicção, de partido e de presidente, dando maioria absoluta a Carlos de Sousa e ao PCP. Apesar de incinerado por ter tomado partido pela coincineração, a derrota de Cáceres, deveu-se também ao candidato do PC, que vindo de Palmela, trazia consigo um ar mais fresco e moderno e sendo um moderado, permitiu aos eleitores não temerem a mudança. Mas o PCP, passados poucos anos, trocou-o, num golpe a fazer lembrar o melhor da velha escola Soviética, por outra comunista com uma aparência e gostos não comunistas, a então, vereadora da Educação e Cultura: Maria das Dores Meira.
Tendo deixado uma Câmara, em dificuldades, Mata Cáceres, deixou também alguns projetos que o PC veio a executar (Polis, Pista de Atletismo, etc.) tendo também modernizado alguns dos espaços públicos e camarários, adquiridos ou já existentes, tornando “Setúbal mais bonita”, conforme se vulgarizou dizer. Mas em 19 anos de poder comunista podemos dizer que estamos onde era suposto estar? Pensamos que não. Vejamos o essencial:
Temos uma educação no 1º ciclo e pré-escolar acessível e em boas condições para todos. Não. Soubemos, recentemente, que mais de 1200 alunos estão sem escola a tempo inteiro, numa concelho com escolaridade historicamente baixa. Melhorar a educação é estratégico para Setúbal;
Temos uma política de habitação, social e a preços acessíveis, para quem precisa? Não. Estamos com mais habitação recuperada mas mais cara e a começar a empurrar a nossa classe média para a periferia e a utilizar a habitação social existente sem critério;
Temos saneamento básico para todos? Não. Mesmo dentro da cidade, em S. Sebastião temos no Vale da Rosa muitos fogos sem esse requisito básico;
Temos serviços camarários de apoio aos cidadãos e ao investimento de topo. Não. Temos medidas avulsas e uma Câmara que exige a quem investe que resolva boa parte da modernização urbana observada;
Temos uma política de mobilidade que torne a cidade, a serra, o Rio e as praias acessíveis a todos. Não. Temos condicionalismos e projetos para menos estacionamento, mas bem pago e uma rede de transportes sem serviço e qualidade.
O que temos é impostos para pagar no máximo e uma vontade de dominar tudo o que mexe no concelho, através de um “capitalismo municipal” que pretende com essa receita ter mais imóveis, criando mais emprego e dependências do município, com o tecido associativo devidamente controlado e subserviente.
No meu entender, a única reforma estrutural que António Costa fez, com a “Geringonça” foi tornar mais rápido o desaparecimento do PCP. Após tantos anos (recentemente comemorados) a “queda do muro” chegou a Portugal. Esta resistência do PC português é sinónimo do nosso atraso. Vai permitir o eleitorado moderado que Setúbal fique colado a esse atraso, revestido de uma modernidade platinada? É esse o desafio que se coloca a todos os partidos e cidadãos que não desejam esse futuro. Eu já fiz a minha escolha.
Paulo Pisco
Arquiteto pereirapisco.creativity