Distrito perdeu quase 30% das empresas de restauração e bebidas nos últimos seis meses

A pandemia está a afetar fortemente o setor da restauração e bebidas. Quase 30% das empresas acabaram por ser obrigadas a fechar portas e a maioria em atividade reconhece que pode incorrer em situações de incumprimento.

Com a esmagadora maioria dos estabelecimentos do setor da restauração e bebidas já de portas abertas, a dificuldade agora é financeira. Esta é a principal conclusão do Boletim da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, que mensalmente analisa o cenário em cada região. Os dados quanto ao distrito de Setúbal apontam para um quadro alarmante.

Fazer face aos encargos com salários, fornecedores e serviços são fontes de preocupação, com mais de 60% das empresas a saber já que pode vir a incorrer em situação de incumprimento. Cerca de 34% não tem mesmo dúvidas de que vai falhar pagamentos. E 33% ainda não consegue avançar com uma resposta.

Aliás, quatro em cada dez empresas do setor no distrito admite mesmo o encerramento, caso os custos operacionais se tornem insustentáveis.

O cenário não surpreende a secretária geral da AHRESP, Ana Jacinto, que ao Semmais sublinha que o setor é “desde há seis meses protagonista de um filme de terror”. Situação que a leva a afirmar que esta é uma das “atividades mais impactadas pela pandemia e pelas medidas governamentais tomadas na sua sequência”.

A responsável pela AHRESP lembra que “o setor da restauração e bebidas foi dos primeiros a encerrar, uns por imposição legal (caso dos restaurantes e discotecas)” e que “neste momento, aos estabelecimentos acresce ainda limitações de capacidade e de horários”, fatores que conjugados são obstáculos à recuperação.

Desde o início da pandemia 28% dos estabelecimentos fecharam definitivamente as portas, colocando de lado a possibilidade de reabertura e lançando dezenas de funcionários para o desemprego. Entre as empresas que se mantêm abertas, 14% foi forçada a dispensar entre um a dois funcionários. E a previsão, até final do ano, é que quase 25% vai recorrer ao despedimento e redução do número de efetivos. Cenário que Ana Jacinto considera “preocupante”, até porque as diferentes avaliações que a AHRESP vai realizando ao longo do ano demonstram “resultados devastadores”.

Apesar de agosto ser tradicionalmente forte para a setor, este ano quase 90% dos empresários da região reconhece ter faturado durante o referido mês, mas a maioria (58%) apresenta quebras entre os 41% e os 80%, face a igual período do ano anterior.

 

Empresários antecipam quebras na faturação de 50% este mês

As previsões para setembro apontam igualmente para um cenário negro. Mais de 80% dos estabelecimentos antecipa um decréscimo na faturação até 50%, o que poderá resultar na decisão de insolvência e encerramento de portas.

Cerca de 39% dos restaurantes, cafés e bares admitem mesmo fechar em definitivo caso não seja possível suportar encargos. E 40% olha o futuro com grande apreensão, não conseguindo para já dar uma resposta concreta quanto à situação mais imediata.

Apesar de todas as dificuldades, segundo o estudo da AHRESP, quase 80% dos empresários conseguiu em agosto pagar salários. Mas 20% debate-se já com dificuldades de tesouraria, 10% falhou com os funcionários, enquanto que os restantes 10% diz ter realizado apenas pagamentos parciais.

Mais de terço das empresas admite que será obrigada a recorrer aos apoios governamentais para fazer face às despesas. Enquanto que 34% afasta, por ora, esse cenário.

Com 39% das empresas a afirmar categoricamente que fechará as portas caso os custos se tornem incomportáveis. Já 40% dos restaurantes, cafés e bares têm no futuro um enorme ponto de interrogação, não conseguindo responder à pergunta se “se irá manter em atividade”. Apenas 19% dos estabelecimentos conseguirá continuar a funcionar mesmo fazendo face a um cenário de prejuízo.

Com a Covid-19 chegou também um acréscimo dos custos operacionais. Mais de metade das empresas, cerca de 60%, reconhece aumentos que podem chegar aos 30%, face a igual período do ano anterior.

 

Caixa

AHRESP insiste nos apoios

Para fazer face às dificuldades sentidas pelas empresas, a AHRESP tem apresentado várias propostas que acredita poderem minimizar o impacto do atual momento. Ana Jacinto pede ao Governo a introdução de medidas excecionais, em particular, “a necessidade urgente de se aplicar a taxa reduzida de IVA nos serviços de alimentação e bebidas, como forma de apoio à tesouraria, à semelhança do que decidiram outros países”. Ou “a introdução de medidas de dinamização ao consumo e de estímulo à economia nacional, como por exemplo a atribuição de um desconto de 50%, até ao limite de 10 euros por cada refeição consumida nos estabelecimentos de restauração e bebidas, fomentando o consumo e permitindo alguma faturação”. Nas declarações ao Semmais, Ana Jacinto deixou um “apelo ao Governo para criação de um plano de recuperação específico para o turismo que representa uma elevada importância para a riqueza do país, e que enfrenta grandes dificuldades para sobreviver”.