Um grupo de cidadãos criou um observatório para fazer ‘lobby’, agregar visões, vontades e ideias, estabelecer compromissos e “agir em defesa” do desenvolvimento sustentável do Baixo Alentejo.
Trata-se do Observatório do Baixo Alentejo (OBA), que foi criado por um grupo de cidadãos com diferentes convicções e experiências sociais e profissionais e apresentado hoje numa sessão em Beja, que teve como convidado especial o autor e coordenador do Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, António Costa Silva.
Na sessão, o presidente do OBA, Jorge Barnabé, disse que o grupo, quando se juntou há dois meses para o projeto, identificou “três fragilidades que constrangem em muito o desenvolvimento” do Baixo Alentejo, nomeadamente a falta de massa crítica, de influência e de planeamento.
São fragilidades que “se inter-relacionam e interferem com constrangimentos em vários setores e domínios da sociedade”, frisou, explicando que, por isso, o grupo considerou “oportuno e imprescindível criar uma entidade da sociedade civil que possa agregar visões e vontades, estabelecer compromissos, criar ‘lobby’, integrar políticas e ambições setoriais numa visão estratégica comum”.
“Não podemos continuar a pensar num desenvolvimento sustentável e tão desafiante, como aquele que temos entre mãos, se não nos unirmos nas ideias e nos compromissos. Temos todos a responsabilidade, como cidadãos ou grupos organizados, de agir em defesa da nossa terra e de criar novas oportunidades para desenvolver as infraestruturas e os equipamentos que já estão ao nosso dispor e outros que irão surgir”, defendeu.
Segundo Jorge Barnabé, o OBA não é uma associação de contestação, mas sim “uma entidade de concretização” e os elementos que a constituem desejam “intervir” como agentes, interlocutores e parceiros que contribuam para a resolução dos problemas, “reforçando a influência que falta” ao Baixo Alentejo.
“Não podemos criar desenvolvimento estando contra quem [quer que] seja, temos que acrescentar parcerias para ganhar escala, temos que nos unir aos territórios vizinhos do Alto Alentejo, do Algarve, da Extremadura e Andaluzia espanholas”, defendeu, frisando que é “decisivo” o Baixo Alentejo “ampliar a sua ambição num território prestes a emergir: o do sudoeste ibérico”.
O presidente do OBA também defendeu que é “fundamental” o Baixo Alentejo “ganhar influência junto dos decisores políticos, não contestando, mas afirmando ideias e valor”.
Jorge Barnabé defendeu que é preciso “ligar os pontos existentes” entre os investimentos públicos realizados nos últimos anos na região, como o Alqueva, o Porto de Sines e o aeroporto de Beja, para “torná-los fortes entre si, ganhar escala ibérica, europeia e mundial”.
“Não podemos continuar a pensar no desenvolvimento do Porto de Sines sem pensar também nas potencialidades do aeroporto de Beja e em todo o impacto comercial do agronegócio gerado a partir do Alqueva”, disse.
Jorge Barnabé também defendeu “a dinamização do ‘hinterland’ ibérico a partir do aeroporto de Beja” para projetar todas as áreas de negócio, “não só em Beja, mas em toda a região, através de pontos satélite”.
Para tal, disse, é “imprescindível”, com a participação da sociedade civil e em articulação com entidades públicas locais e nacionais, a criação de um gabinete ou de uma entidade de promoção e organização do parque logístico do aeroporto de Beja, “realizando procedimentos e a dinamização e a construção das infraestruturas que atraiam investimentos diversificados, diretos e indiretos”.
Na sua intervenção na sessão, António Costa Silva considerou que “é um erro defender o aeroporto de Beja como alternativa ao aeroporto de Lisboa”.
“É um erro em que não podemos incorrer, a narrativa tem que ser mudada”, frisou, defendendo o conceito de que aeroporto de Beja pode ser um aeroporto industrial, uma plataforma logística, uma plataforma de receção de importações e exportações e um ‘cluster’ para manutenção e criação de novos aviões.
Segundo António Costa Silva, com a narrativa de que o aeroporto de Beja pode ser alternativa ao de Lisboa, as “discussões ficam logo inquinadas e limitam a operacionalidade” daquele conceito.