Covid mais forte lança caos nos hospitais do distrito de Setúbal

A pressão de doentes que ocorrem às urgências Covid-19, o elevado número de internamento e um maior caudal de infetados nos cuidados intensivos está a deixar os hospitais da região à beira do caos. Responsáveis tentam adaptações.

O Hospital Garcia de Orta, em Almada, estava quinta-feira, “sob uma enorme pressão”, segundo a administração hospitalar, com 152 doentes positivos por SARS-COV-2, dos quais 133 internados em enfermaria, 18 em cuidados intensivos e um doente na Unidade de Hospitalização Domiciliária. Mas ao longo da semana teve mesmo que abortar alguns internamentos e reenviar doentes para unidades fora da região.

Esta pressão, levando o Garcia de Orta ao nível III do seu Plano de Contingência, que previa inicialmente apenas 66 camas em enfermaria e nove destinadas aos cuidados intensivos, obrigou os dirigentes hospitalares a reconverter, na terça-feira, mais 16 camas “não Covid-19” nas enfermarias cirúrgicas. “Fomos obrigados a uma nova organização para aumentar a capacidade de resposta à doença”, confirmaram as fontes do Semmais.

E até final deste mês deverá ser expandida a Área Dedicada ao Atendimento de Doentes Respiratórios do Serviço de Urgência Geral. “Na região de Lisboa e Vale do Tejo, o nosso hospital tem sido um dos que tem registado maior volume de doentes”, diz a comunicação do Garcia de Orta, ao ponto de há dez semanas consecutivas a unidade ter mantido uma taxa de esforço “muito elevada” acima dos 40%, para dar vazão à quantidade de casos.

 

São Bernardo no ‘vermelho’ e com doentes em espera

Já no hospital São Bernardo (Centro Hospitalar de Setúbal), que ativou o nível vermelho do seu Plano de Contingência, no patamar da catástrofe, o número de infetados não tem parado. No início da semana algumas dezenas de doentes aguardavam por internamento nas urgências e, embora sem confirmação oficial, muitos tiveram que se manter longas horas no interior das ambulâncias, no exterior da unidade.

Nesta unidade hospitalar, terça-feira, estavam internados em enfermaria 115 doentes, sendo que onze destes nos cuidados intensivos. “Não tem sido possível dar conta de todos os doentes, e não tem nada a ver com a primeira e segunda fases. O pior está para vir”, confessou ao Semmais um clínico do São Bernardo.

A administração não tem dado muitas informações, mas a rutura do hospital de serve os concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra, e parte do Litoral Alentejano, está muito perto. “Todas as adaptações de espaço estão a ser feitas, mas o hospital não cresce”, lamenta outro médico.

 

Nossa Senhora do Rosário lotado, prepara tendas de campanha

Adaptações que têm sido praticadas no Centro Hospital Barreiro/Montijo (Nossa Senhora do Rosário). Este hospital dispõe de quatro enfermarias dedicados à Covid-19, com lotação de 102 camas. Não há falta de material, nomeadamente ventiladores, mas está previsto para breve, segundo disse fonte da comunicação daquela unidade, a reconversão da Unidade de Cuidados Intensivos, que atualmente apenas interna doentes não Covid, disponibilizando-a para o combate à doença.

“Comparativamente com outras fases da pandemia, o hospital regista mais internamentos e mais óbitos de doentes infetados pela Covid-19, para além dos utentes que são diagnosticados nos serviços de urgência e outros encaminhados para os Cuidados de Saúde Primários por não necessitarem de cuidados hospitalares”, explicou ao Semmais a administração da Unidade.

Entre março e dezembro o ano passado o Hospital Nossa Senhora do Rosário contratou mais 144 profissionais, que vieram reforçar uma equipa composta por 1829 médicos, enfermeiros e técnicos hospitalares. E, para além das adaptações internas, tem instaladas duas tendas de campanha no exterior das urgências.

 

Hospital do Litoral Alentejano atende 30 doentes suspeitos por dia

Também o Hospital do Litoral Alentejano está com a sua capacidade instalada ocupada, e tem atendido por dia cerca de 30 doentes suspeitos de estar infetados com a Covid-19. Até quinta-feira, estavam internados 26 doentes em Medicina Covid e sete em cuidados intensivos.

Mesmo sem ter tido ainda necessidade de desativar nenhum serviço não urgente, a administração disse ao Semmais ter “todos os meios de socorro necessários”, nomeadamente ventiladores, e estar a preparar o aumento de doze novas camas, bem como a expansão da Unidade de Cuidados Intensivos, num investimento de um milhão de euros, que permitirá mais quatro camas neste serviço.