Pescadores de cerco no limite financeiro

Possibilidade de poderem capturar algumas espécies mais caras do que a sardinha, a cavala ou o carapau, não resolve as carências de uma atividade que, muitas vezes, não dá para as despesas.

Os pescadores de cerco em Portugal estão este ano autorizados a fazer 20 viagens em que podem capturar, em cada uma delas, até 20% do peso de outras espécies que são o seu alvo definido. A medida, já publicada numa portaria pelo Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas é bem aceite pelos associados da Sesibal, a cooperativa de pescadores de Sesimbra e Setúbal, mas que, ainda assim, a consideram insuficiente para suprir os muitos prejuízos financeiros que dizem estar a acumular por não terem condições idênticas, por exemplo, às que são dadas aos do arrasto.

O presidente da Sesibal, Ricardo Santos, disse ao Semmais que a medida agora anunciada “vai permitir aos pescadores trazerem para terra alguns exemplares da classe marçal, como os besugos e sargos, em conjunto com os peixes das espécies alvo, da classe plágico e que são, entre outros, a sardinha, o carapau ou a cavala”. “Na prática têm a possibilidade de ganhar mais algum dinheiro”, sintetizou.

Esta é também a leitura feita pelo administrador da Docapesca de Setúbal, Sérgio Faias, que lembrou ao Semmais que este tipo de benesse “é dado todos os anos”, com a finalidade de possibilitar mais rendimentos aos homens do mar.

“Mesmo com esta sopa que o Estado está a dar”, a situação económica entre os mais de 300 homens que fazem o cerco em Setúbal e Sesimbra, “não vai ficar muito melhor”, afirma Ricardo Santos. “A medida que vem aligeirar um pouco as dificuldades, mas não soluciona os problemas financeiros no setor, até porque os pescadores continuam a ser multados quando trazem exemplares das espécies marçal em vez de capturarem apenas da espécie plágico. As multas, aplicadas a armadores e mestres, podem ir dos 600 aos 1200 euros”, explicou.

 

Sesibal afirma que atualmente profissionais estão “a soro”

O presidente da Sesibal diz que os pescadores que representa estão “a soro” e muitos “no limite das capacidades”. A situação financeira débil é consequência, diz, dos baixos rendimentos obtidos na venda do pescado permitido e pode potenciar, a curto prazo, o desaparecimento de muitos postos de trabalho.

“O ideal seria que fossem dadas aos pescadores do cerco as mesmas regalias atribuídas aos do arrasto, que podem trazer para terra e vender na lota todas as espécies capturadas, apesar desta ser uma arte muito mais prejudicial para a preservação das espécies”, afirma.

Atualmente, os pescadores de cerco ganham 20 cêntimos por quilo de cavala e cerca do dobro pelo quilo de carapau vendido em lota. A faina da sardinha, essa só terá início em maio. “Para se ter uma ideia do que estes valores representam, basta dizer que cada ida ao mar custa, entre combustível, gelo, redes, etc, cerca de 500 euros. Muitas vezes o que se pesca mal dá para as despesas, pelo que a ajuda de se poderem capturar e comercializar corvinas ou besugos, que podem render cinco ou seis euros por quilo, é bem-vinda e demonstrativa das exigências impostas aos pescadores de cada arte”, conclui.