O produtor de vinhos alentejano Ervideira vai lançar o seu primeiro azeite, após ter comprado este ano parte da produção da Cooperativa Agrícola de Portel, feita a partir de olival tradicional, revelou o responsável da empresa.
O investimento da Ervideira, entre 27 e 30 mil euros, feito na aquisição de parte da produção de azeite dos cerca de 400 associados da cooperativa do concelho vizinho, tem “um efeito social muito maior do que o valor em si, ao segurar os pequenos agricultores da região”, frisou à agência Lusa o diretor executivo Duarte Leal da Costa.
“Mais do que um investimento grande, há aqui uma componente de produto de muito boa qualidade, que se estava a perder, e por isso tem de haver uma empresa com alguma força comercial para vender o produto mais caro em 20% ou 30% no mercado”, explicou.
A adega, situada em Vendinha, no concelho de Évora, comprou a produção a um preço “cerca de 15% a 20% acima do valor” dos outros azeites, pagando “3,10 euros pelo quilo de azeite”, quando este, “normalmente, estava no mercado a 2,40 euros”.
O objetivo é “entrar num mercado bastante mais ‘premium’”, assumiu Leal da Costa, após o engarrafamento “em garrafa de luxo”, com uma “apresentação ‘gourmet’”, que vai “segurar um produto que está votado à extinção”.
“Um olival tradicional, hoje em dia, praticamente o seu azeite já não tem venda. E a ideia é conseguir arranjar cada vez mais mercados e explicar ao consumidor – e este é que é o nosso grande trabalho – que tem aqui um azeite mais macio, não tão picante e com maior durabilidade”, argumentou o responsável da Ervideira.
Leal da Costa, de resto, sublinhou as qualidades do azeite de olival tradicional, de azeitona galega, que “evolui muito bem”, ao contrário da produção intensiva, de azeitona arbequina, que “ao fim de seis ou sete meses começa a oxidar”.
“O azeite de azeitona galega tem a virtude de ser muito doce, macio, ‘redondinho’ e por isso é diferente e tradicional, se bem que já não colhido tão tardiamente quanto antigamente. Ainda há pouco tempo, abri um azeite destes, com oito anos depois do prazo de validade, e estava simplesmente fabuloso. Evoluem muito bem”, exemplificou.
Por ser o primeiro ano que a Ervideira compra parte da produção tradicional da cooperativa de Portel, “não há o compromisso da comercialização total do azeite”, mas o objetivo da empresa vitivinícola passa por “assumir o compromisso de compra de toda a produção” nos próximos anos.
Com isso, “paga melhor aos olivicultores” do que estes normalmente conseguiriam individualmente, “porque são olivais com produções bastante mais baixas”, mas, em compensação, “obtém um azeite diferenciado”.
Para já, o produto começará por ser vendido “nas lojas físicas e ‘online’ da Ervideira”, previsivelmente a partir da próxima semana, assim como “aos distribuidores que vendem à restauração e garrafeiras” e já existem inclusive encomendas para exportação “para a Alemanha, Suíça, Luxemburgo e Brasil”.
O objetivo é, claramente, expandir as vendas do produto ao longo dos próximos anos, apesar de “não haver compromisso da comercialização do azeite na sua totalidade” neste primeiro ano.
“Para já, temos 4.000 garrafas de meio litro preparadas para irem para o mercado. Não quero entrar ainda nos garrafões, mas esta será, depois, a linha a seguir”, admitiu.
A Ervideira é uma das empresas vitivinícolas seculares em Portugal, produzindo vinho desde 1880.
Atualmente, possui um total de 160 hectares de vinha, distribuídos pelas sub-regiões vitivinícolas da Vidigueira e de Reguengos de Monsaraz.