A hora da verdade

As três áreas estruturantes do Plano de Recuperação e Resiliência de que o Estado português vai dispor nos próximos anos são fundamentais para o país e mais ainda para o Alentejo.

Na esfera da Resiliência, o primeiro pilar desta ‘bazuca’, inclui um largo espectro de áreas, desde logo as questões da saúde, habitação, respostas sociais, e entre outras, a capitalização e inovação empresarial. Os dois pilares subsequentes, a Transição Climática e a Transição Digital, vão contar também com verbas robustas.

Esmiuçando o programa, que está revestido de mais de 16 mil milhões de euros, é possível identificar um conjunto de domínios setoriais que podem vir a fazer a diferença no Alentejo.

Sabe-se que já há projetos em curso, como é o caso do Empreendimento de Fins Múltiplos do Crato, investimento estimado em 120 milhões de euros, que vai alavancar o desenvolvimento no Alto Alentejo, em função do impacto transformador na economia regional, a par de contribuir para fixar população, combater as alterações climáticas, e, entre outros segmentos, melhorar o abastecimento de água.

Mas o PRR, se bem aproveitado, pode contribuir para ajudar a resolver problemas mais básicos, embora urgentes, nomeadamente as questões dos centros de saúde, com verbas ao dispor para a sua reabilitação e modernização, um dos múltiplos fatores que têm engrossado a lista negra de razões pelas quais o exercício da medicina interna não é motivador para a atração de médicos e de outros especialistas do setor.

Há também uma verba muito significativa para a habitação, outro dos empecilhos que tem travado a fixação e atração de população para grande parte do território alentejano. E a maior de todas, na área empresarial, onde se prevê a capitalização de empresas que queiram entrar na era da inovação.

São, no geral, apostas e instrumentos poderosos, com dimensão financeira nunca vista, agora ao dispor do Estado, das autarquias, das empresas, num movimento que justifica concertação e ousadia.

Razões mais que suficientes para que a região em peso possa definir uma estratégia mais ampla, de largo horizonte, sabendo aproveitar estes fundos sem desperdício. Não é uma tarefa fácil, mas é uma oportunidade única de virar a página.

Para isso, é preciso articular vontades, integrar projetos e desenvolver parcerias. A ‘conquista’ de verbas do PRR não pode embater numa execução de pirro como muitas vezes ocorre com os clássicos fundos comunitários, com taxas de concretização que deixam muito a desejar.

Planeamento estratégico é a única via para consumar esta mudança. E, depois, mais do que tudo, é preciso fazer obra e elevar o Alentejo aos patamares que reclama e que merece.

Raul Tavares
Diretor