Socialistas da região forçam ‘braço de ferro’ na AMRS

Os dirigentes do PS querem implementar na Associação de Municípios da Região de Setúbal o modelo que levou ao acordo para a AML. Isto significa mais poder de decisão e “uma estratégia diferente”.

O partido socialista vai exigir mais peso na gestão e na estratégia da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS) em função dos resultados das últimas autárquicas em que ganhou mais uma câmara à CDU, a da Moita, e conquistou a maioria das presidências das juntas de freguesia do distrito, 28 em 55.

As negociações entre as duas forças políticas dominantes na região, PS e PCP, ainda não avançaram oficialmente, mas o Semmais sabe que “já houve contactos para definir os interlocutores”. Neste caso, um trio de dirigentes socialistas integrado por Eurídice Pereira, André Pinotes Batista e Emanuel Silva, sendo que da parte do PCP, estão ‘convocados’ os presidentes das câmaras de Sesimbra e de Setúbal, Francisco Jesus e André Martins, respetivamente, que pode ser alargada aos edis de Palmela e Seixal, Álvaro Amaro e Joaquim Santos.

A primeira reunião deverá ocorrer muito em breve e será convocada pelo presidente da Assembleia Intermunicipal, Francisco Jesus, com larga experiência na orgânica do associativismo autárquico, já que fez parte, durante um largo período, das cúpulas da Anafre – Associação Nacional de Freguesias.

 

Ou mudar o paradigma ou bater com a porta

Esta questão da futura composição dos órgãos sociais da AMRS está a ser acompanhada diretamente pelo presidente da federação socialista, António Mendes, muito critico do papel e da estratégia da associação nos últimos ciclos autárquicos. Numa entrevista ao Semmais, chegou mesmo a afirmar que o PS abandonaria aquela estrutura se nada mudasse. Agora, assumindo o seu partido “como maior força política do distrito”, quer mesmo exigir “uma nova correlação de forças”, tendo por base o modelo da AML, mais integrador. “Não está propriamente em causa lugares, mas sim inverter este rumo e definir uma nova função para a AMRS, que não seja a realização de festivais e pouco mais que isso”, reafirma ao Semmais.

O PS quer definir, nomeadamente, a situação dos municípios do Litoral Alentejano, já que apenas dois dos quatro, Alcácer e Santiago, integram a AMRS com direito a voto. Situação, aliás, que obstaculizou a liderança dos socialistas na instituição na sequência das autárquicas de 29 de setembro. As contas são simples de fazer: Se o universo eleitoral da instituição fosse formado apenas pelos municípios da península de Setúbal, o PS teria a presidência, com cinco câmaras, contra quatro da CDU. É um hiato que António Mendes quer resolver: “Ou são os quatro do litoral ou nenhum”, diz.

Mas há mais. Uma eventual atualização do PEDEPES – Plano Estratégico para a Península de Setúbal, a redução de cotas por parte dos acionistas municipais e um incremento de parcerias e protocolos, desde logo com a Área Metropolitana de Lisboa e a Comunidade Intermunicipal do Litoral Alentejano (CIMAL).

 

 Disponibilidade para ‘abrir’ mas não a todo o custo

Para além da mudança de paradigma, com estes trunfos resultantes das últimas autárquicas, o partido poderá mesmo vir a exigir a indicação do secretário-geral da AMRS e, segundo outras fontes socialistas, “maior presença de autarcas do PS”, mantendo-se a presidência da instituição nas mãos da CDU.

O primeiro fogo, com a nomeação desta ‘troika’ socialista para negociar o novo modelo de gestão, não caiu muito bem junto do PCP, uma vez estas decisões têm sido sempre tomadas entre presidentes de câmara eleitos. “Fomos confrontados com um pedido de negociação ao nível do patamar partidário, o que contraria a prática comum no seio da organização”, explica uma fonte do PCP.

A mesma fonte, no entanto, aceita a “necessidade óbvia” de partilha de poder tendo em conta os resultados eleitorais, que acentuaram o crescimento autárquico dos socialistas. Mas, adianta, “isso não implica que se vire toda a mesa de jogo, só porque sim”.

 

Modelo da AML mais partilhado e representativo

Havendo margem de manobra para negociar do ponto de vista orgânico, o PS defende um modelo semelhante ao conseguido para a AML, em que a presidência do Conselho Metropolitano é da socialista Carla Tavares, presidente da câmara da Amadora, seguida dos vices, Hélder Sousa Silva (PSD) e Frederico Rosa (PS). Mas a Comissão Executiva foi entregue a Carlos Humberto, da CDU, embora esta coligação partidária detenha apenas quatro câmaras das 18 que integram a AML, e o PS dez. No atual quadro da AMRS, a CDU preside ao Conselho Diretivo, cujo responsável é ainda Rui Garcia – que perdeu as eleições na Moita – a Assembleia Intermunicipal, está sob os comandos de Francisco Jesus, presidente da câmara de Sesimbra, e o Conselho Fiscal é presidido por José Polido, vereador na câmara de Sesimbra. Os socialistas contam com um membro em cada um destes três órgãos, num total de onze dirigentes.