O anúncio de António Costa sobre a criação das NUTS para a península de Setúbal é uma grande notícia e compromete o primeiro ministro em exercício.
Aparentemente, coloca um ponto final na forma enviesada com que o Governo tratou nos últimos tempos esta urgência tão reclamada pelos agentes da região. Aparentemente, digo eu, porque há prazos a cumprir e continuam a surgir sinais contraditórios, como é o caso da redução para os 18 municípios da AML de 817 milhões do PT2020 para 380 milhões do PT20-30.
Com os danos a acumularem-se em muitos milhões de euros, e a concordância, quase unânime, sobre a necessidade de se resolver de vez esta injustiça de continuarmos pobres (península de Setúbal) numa região rica (AML), não se entende mais esta machadada.
Mas, adiante, são mais uns anos de perdas, a não ser que sejam colmatadas pela vontade do futuro Governo em encontrar os mecanismos alternativos que autarcas e, em especial, as empresas da região reivindicam. Mais fundos e fontes de financiamento vão certamente alavancar grandes investimentos que estão na forja, muitos deles ‘congelados’ por falta de comparticipações justas, à medida do que ocorre em outras regiões tão ou menos vulneráveis que a nossa.
António Costa tem agora uma oportunidade de transformar discursos, como o que fez na evocação do aniversário da Autoeuropa – a maior empresa do distrito e uma das maiores do país – em ações práticas. Acelerar até ao final deste mês a entrada em Bruxelas do processo e divulgar, antes das eleições de janeiro, a prova documental. Ficava bem, talvez ganhasse votos, mas sobretudo, mostrava credibilidade. A região está farta de embustes.
E há notícias de que a Norte já se ‘cavalga’ contra esta intenção do Governo. É um lobby fortíssimo. No país e na União Europeia. Pode ser mais um entrave, caso não haja firmeza e convicção. Faz lembrar as façanhas dos aeroportos que nunca chegaram a aportar neste território, havendo sempre um entrave, uma força de bloqueio, uma chuva de ruídos a torná-los vislumbres e nada mais que isso.
É bom que se saiba que a região está muito bem no colo da Área Metropolitana de Lisboa, tornando-a mais forte e oferendo-lhe uma maior escala. Mas não pode eternizar-se como o ‘parente pobre’, que dá muito e recebe muito pouco.
Raul Tavares
Diretor