João Ferreira escolheu estes trabalhadores para evidenciar que a indispensabilidade de certas profissões tem de ir mais longe na valorização.
O dirigente comunista João Ferreira acompanhou no domingo o início de mais uma noite dos trabalhadores da recolha de resíduos de Almada, considerados imprescindíveis, mas sem salários condizentes com essa indispensabilidade.
“Quero saber o que é que ele (António Costa) acha disso. Todos os anos um gajo não tem poder de compra. Nada… Cada vez é mais pobre. Eu estou com 705 euros”, disse António Garrido, há 19 anos trabalhador da recolha de resíduos sólidos urbanos de Almada, no distrito de Setúbal.
António estava apetrechado com um gorro. A noite está particularmente fria, mas é preciso enfrentá-la para que o lixo não fique acumulado nas ruas de Almada.
Os camiões estavam prontos para sair, mas ainda houve tempo para ouvir João Ferreira, que escolheu estes trabalhadores para evidenciar que a indispensabilidade de certas profissões tem de ir mais longe na valorização. Aplausos não bastam.
Estes funcionários são considerados “mais imprescindíveis” desde o início da pandemia de Covid-19, uma vez que estão “entre aqueles que nunca confinaram”, impedindo uma paragem completa do país, sustentou o antigo eurodeputado comunista.
No entanto, a valorização nunca chegou e a culpa é o do PS, prosseguiu João Ferreira, advertindo os cerca de 15 trabalhadores que o ouviam de que a solução também não é escolher o PSD.
Da direita, completou, não se pode esperar atualizações salariais.
Por isso, o membro da comissão política do Comité Central do PCP, que até ao final da próxima semana é o rosto da campanha eleitoral da CDU, pediu a estes trabalhadores uma reflexão: os baixos salários são algo para “considerar como inevitável?”.
Os trabalhadores da recolha de resíduos ouviram em silêncio. Ocasionalmente um ou dois abanavam a cabeça como que concordando com as palavras de João Ferreira, enquanto António Garrido ia sussurrando que trabalha há 19 anos e só ganha o salário mínimo.
“É esta reflexão que vos convidamos a fazer”, concluiu João Ferreira. Ficou sem resposta, até porque o tempo é escasso e há uma noite de trabalho pela frente, mas a resposta será dada no dia 30 de janeiro.