Câmara do Barreiro diz que obra na zona dos moinhos de maré cumpre requisitos legais

O vice-presidente da câmara do Barreiro assegurou que a obra na zona dos moinhos de maré de Alburrica cumpre os requisitos da lei e que o objetivo da autarquia é recuperar o património histórico do município.

Rui Braga falava numa reunião de câmara, na quarta-feira, ao ser questionado pelos vereadores sem pelouro eleitos pela CDU sobre uma denúncia feita pela Associação Barreiro Património Memória e Futuro, que acusou o executivo, no distrito de Setúbal, de um crime patrimonial e ambiental em Alburrica, com a destruição dos moinhos de maré e do sapal da Caldeira Grande.

“É preciso que os barreirenses saibam que tudo o que a lei exige para uma obra de tipologia do moinho foi cumprido”, disse o vereador e vice-presidente da autarquia, de liderança socialista, assegurando que o objetivo é reabilitar o Moinho Grande, pôr os engenhos a funcionar como outrora e fazer um centro interpretativo.

O vereador disse ainda que uma obra desta dimensão e numa zona sensível teve todos os pareceres da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Administração do Porto de Lisboa.

“Que ninguém tenha dúvidas de que o objetivo é recuperar o nosso património para que recuperemos a memória coletiva de todos”, frisou.

A Associação Barreiro Património Memória e Futuro realizou em 22 de janeiro uma sessão pública de esclarecimento e denúncia, com uma visita ao local com a presença de dois arqueólogos, alertando para a necessidade de salvaguardar o que ainda for possível relativamente ao Moinho Grande e à sua caldeira.

Os moinhos de maré eram formados por uma caldeira que se enchia de água através de uma porta (adufa), quando a maré enchia, fechando-se em seguida, até à descida das águas, e por uma construção onde se situavam diversas moendas (pares de mós) que se destinavam ao fabrico de farinha.

“O moinho de maré grande já não existe, foi arrasado, como o pequeno também já o tinha sido pela Câmara Municipal do Barreiro. A riqueza cultural, identitária e económica deste bem patrimonial de arqueologia industrial morreu”, refere a informação divulgada pela associação, destacando não ter sobrado nada do edifício: nem arcadas, nem mesmo a estacaria sobre a qual o moinho se encontrava construído.

O vice-presidente da autarquia disse ainda estranhar que uma associação local não tenha pedido esclarecimentos à autarquia sobre a matéria, optando por falar com a comunicação social.

“Lembro que foi a associação que intentou uma providência cautelar na Quinta do Braancamp, que ainda está parada e que tem na sua gestão o ex-mandatário da CDU. Estamos a falar de combate político além das preocupações genuínas”, disse.

“Ninguém esta aqui a tentar fazer crimes ou a não recuperar. Estamos a recuperar algo que é nosso, a associação devia ter pedido uma reunião connosco”, frisou.

Para a Caldeira Grande do moinho em causa a autarquia tem projetada uma das maiores praias de rio da Área Metropolitana de Lisboa, um plano que deverá estar concluído até ao final de 2023 e igualmente contestado pela associação.

Segundo a associação, as caldeiras dos moinhos de maré são sapais e, portanto, zonas prioritárias de restauro por razões ecológicas e ambientais, pelo que considera que, “do ponto de vista ambiental, outro crime foi cometido”, porque “a caldeira está seca e o seu ecossistema morto”.

Relativamente a esta matéria, o vereador Rui Braga explicou que este foi um projeto escolhido pela APA, o que só por si dissipa dúvidas sobre o enquadramento legal de uma obra que vai criar novas dinâmicas e permitir que os barreirenses usem o espaço como nunca usaram.

O projeto de requalificação da Caldeira Grande foi escolhido pela Agência Portuguesa do Ambiente para beneficiar do apoio de fundos comunitários, num investimento que ronda os dois milhões de euros.

Segundo a autarquia, ao abrigo do protocolo de colaboração para a concretização de ações de reabilitação da rede hidrográfica o projeto visa recuperar uma estrutura abandonada de 77.520 metros quadrados, dando-lhe uma nova vida, transformando-a num espaço de lazer para os barreirenses e vocacionado para o turismo.

Na explicação oficial do projeto, a autarquia adianta que o mérito desta intervenção “está também no combate às alterações climáticas, já que a existência de estruturas desta natureza, próximas do centro da cidade, contribui para atenuar as ondas de calor”.

“Os reservatórios de água podem ser utilizados como um climatizador natural e até mesmo para o combate a incêndios”, é referido.