Setúbal acolhe projeto piloto para combater pobreza energética

Mais de 200 famílias carenciadas da freguesia de São Sebastião vão poder conhecer as melhores formas de aquecerem as habitações. Daqui por cinco meses a experiência deverá repetir-se, desta feita no concelho de Palmela.

Chama-se “Ponto de Transição” e é um projeto que visa apoiar as famílias mais carenciadas em termos energéticos. Aquelas cujas casas são demasiado frias no inverno e muito quentes no verão, as que não possuem fornecimento de eletricidade ou gás nos níveis adequados. Cerca de 200 famílias da freguesia de São Sebastião, em Setúbal, são os primeiros contemplados deste projeto piloto da Agência de Energia e Ambiente da Arrábida (ENA) que, daqui por cinco meses, deverá repetir a experiência com residentes do concelho de Palmela.

Isabel Rodriguez, gestora de projetos da ENA, explicou ao Semmais que a pobreza energética não é apenas uma consequência do baixo desempenho energético das habitações, mas também dos diminutos rendimentos das famílias e dos elevados custos associados ao fornecimento de energia. São estas as razões que estiveram na decisão de, desde quinta-feira, manter aberto ao público, junto ao mercado 2 de Abril, um posto onde todos os interessados se poderão deslocar e expor as dúvidas e problemas. “Fazemos aconselhamento gratuito com técnicos especializados. As pessoas serão elucidadas sobre o modo como podem melhorar o aquecimento dentro de casa, como devem interpretar a leitura das faturas de gás e eletricidade”, disse.

O posto de atendimento deverá manter-se em funções durante cinco meses. Nesse período, de acordo com os responsáveis da ENA, os residentes interessados receberão ainda a formação básica que, no futuro, lhes permitirá ajudar e esclarecer dúvidas que surjam aos vizinhos. “Vamos promover a formação dos moradores para que possam ser úteis em ações que visam a melhoria dos comportamentos térmicos. Também queremos que as pessoas passem a saber preencher os diversos formulários para que possam ter acesso aos vários apoios que existem para melhorar as habitações em termos energéticos. O que agora constatamos é que muita gente não só não conhece esses apoios e a forma como se pode candidatar aos mesmos, como, em muitos casos, nem sequer possuem equipamento informático que lhe permita aceder à informação”, referiu Isabel Rodriguez.

 

Casas da região entre as que têm mais baixa qualidade

Para desenvolver este projeto piloto, a ENA tem como parceiro a Fundação Calouste Gulbenkian e conta com a colaboração do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade, a Associação das Agências de Energia e Ambiente, a câmara de Setúbal e a Junta de Freguesia de São Sebastião.

A pobreza energética, que aflige, sobretudo, idosos e crianças afeta, de acordo com os estudos, entre 1,9 e 3 milhões de portugueses. Portugal e, em particular, a região de Setúbal, de acordo com a ENA, apresenta uma das maiores taxas de mortalidade no inverno associada à baixa qualidade das habitações.

No futuro, as entidades que agora desenvolvem o projeto, pretendem que seja criada legislação adequada para introdução de requisitos térmicos nos edifícios, ao mesmo tempo que alertam para a desigualdade entre os baixos rendimentos dos moradores e os preços praticados. Além disso apontam deficiências nos equipamentos de climatização utilizados e referem a existência de níveis desadequados de serviços energéticos, que conduzem a situações de subconsumo de energia.