Aparentemente ninguém sabia da existência, naquela zona do Tejo, desta espécie protegida. A pesca ilegal é a principal responsável pelo declínio da população.
O desabamento de um pontão na Trafaria, Almada, na passada sexta-feira, revelou mais um “tesouro” no Rio Tejo: um núcleo de dimensões desconhecidas de cavalos-marinhos, espécie protegida por se encontrar ameaçada de extinção. Durante a semana peritos do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, devidamente licenciados pelo Instituto de Conservação da Natureza, tentaram salvar o maior número possível de espécimes, transportando-os para o Oceanário de Lisboa, onde irão permanecer até que seja considerado seguro devolvê-los à vida selvagem.
“Em Portugal conhecem-se duas espécies de cavalos-marinhos, o hippocampus hippocampus e o hippocampus guttulatus. No pontão da Trafaria, tanto quanto sei, foram encontrados espécimes das duas”, explicou ao Semmais Sílvia Tavares, da organização ambientalista Ocean Alive.
Falando sobre o valor científico e ambiental da descoberta, Sílvia Tavares referiu que “muito poucas pessoas sabem da existência de cavalos-marinhos no Tejo, facto que prova a raridade dos mesmos e a importância de se ter descoberto este grupo e de agora se estarem a tomar medidas para o salvar”.
Os cavalos–marinhos, de acordo com a ambientalista, são uma espécie muito frágil, com dificuldades em nadar e que, por isso, procuram zonas com fraca ondulação para viverem. “Por serem muito vulneráveis e por estarem protegidos através da convenção CITES é que as organizações ambientalistas têm a preocupação de lhes ser comunicada de imediato qualquer descoberta de um grupo. A sua localização é quase sempre desconhecida”, disse.
Pesca ilegal é um verdadeiro flagelo para a espécie
No início deste século a Ria Formosa, no Algarve, albergava a maior comunidade mundial de cavalos-marinhos, com cerca de dois milhões de indivíduos. Hoje calcula-se que restem apenas 150 mil. Por outro lado, ninguém sabe quantos poderão viver no Tejo ou, por exemplo, no Sado.
A poluição, as alterações climáticas, o arrasto dos fundos marinhos, o turismo de massas e, sobretudo, a pesca ilegal estão a conduzir ao declínio da espécie. Nos rios da península de Setúbal não hã registo de alguma vez ter sido detido alguém a pescar estes seres, que têm em média cerca de 15 centímetros de comprimento. No Algarve, apesar de já por diversas vezes terem sido localizados e identificados pescadores ilegais, não existe registo da aplicação de qualquer coima ou outro tipo de condenação.
Sabe-se que existem grupos organizados que obtém grandes lucros com as capturas de cavalos-marinhos. Estes animais são muito apreciados na Ásia e, sobretudo na China, onde um quilo de exemplares secos (cerca de 300 unidades) pode custar cerca de 4.000 euros.
Na China estima-se que sejam comercializados ilegalmente, todos os anos, cerca de 70 milhões destes animais. Chegam dissimulados através dos mais diversos meios de transporte, uma vez que após secos, são facilmente escondidos.
Os cavalos-marinhos são utilizados na medicina popular para quase todo o tipo de maleitas. Incluem-se na terapia para o suposto tratamento das mais diversas dores, para problemas de asma e disfunções sexuais.