“Contrastes” de Miriam Biancard à mostra na galeria de Corroios

A mostra é composta por três disciplinas artísticas, através da exploração de diversos materiais recicláveis. “Contrastes” está patente na Galeria Municipal de Corroios até ao final do mês.

Composta por esculturas, pinturas e instalações escultóricas e pictóricas, a exposição diferencia-se do convencional e não foi concebida num todo, como noutras coleções que a artista costuma apresentar.

Em conversa com o Semmais, Miriam Biancard refere que a mostra se encontra tripartida: o simbólico (lado direito a preto/branco com alguns apontamentos a encarnado), a matéria em estado bruto (ao centro, esculturas concebidas a partir de elementos naturais) e, por fim, o intuitivo variável (lado esquerdo, muita cor, texturas e significados vários).

Numa conjugação virtuosa entre diferentes materiais, a artista utiliza nos seus trabalhos alguns “objetos que deixaram de ter vida útil e que são aproveitados para dar corpo e alma ao que pensa e sente”. “Na ‘Contrastes’ apresento três disciplinas da arte, pois não me cinjo a uma só, gosto de explorar os diversos materiais que tenho ao meu dispor dando-lhes alma, vida e cor e, desta forma, mostrar ao espectador que é possível conceber peças a partir daquilo que já não tem vida”, partilha com o Semmais, afirmando que “onde uns veem lixo outros podem ver arte”.

“Desde cedo que sempre achei graça a transformar o que já não tinha utilidade em algo diferente. Lembro-me de ter sete anos, pegar nos maços de tabaco vazios e transformá-los em casas, construía quarteirões, indústrias e aldeias alentejanas. Entretanto fui crescendo e comecei a recolher em casa objetos que iam para o lixo. Mais tarde começo a apanhar coisas específicas para fazer projetos, como por exemplo as tampas das jantes dos carros que ficam abandonadas nas ruas, com as quais fiz três projetos distintos:  o Sistema Solar, as Bandeiras dos Reis de Portugal e a Bandeira de Portugal”, conta Miriam Biancard.

 

Reciclagem está na base dos trabalhos da artista

A par das ‘limpezas’ de rua, faz também as costeiras, onde recolhe muito lixo que chega ao areal e, inclusive, já fez uma exposição só com esse material. “Por vezes perguntam-me ‘o que ganhas com isso?’ Ao que respondo: Não ganho nada, só consciência ambiental. A reciclagem faz parte de mim e a incorporação da mesma nos meus projetos é parte integrante”, acrescenta, referindo que não consegue imaginar um novo projeto sem que tenha este toque. “É o meu cunho pessoal”, sublinha.

A artista lisboeta, de 37 anos, nutre desde sempre um grande amor pela arte e quando surgiu a oportunidade de fazer o primeiro curso de pintura não a deixou escapar. “Entre o primeiro e o segundo curso tive aulas particulares no atelier de uma pintora e quando atingi a idade mínima para ingressar na Sociedade Nacional de Belas Artes fiz o curso de pintura. Entretanto, perdi o fascínio pela pintura e segui outro caminho. Já mais crescida, enquanto aluna da Faculdade de Belas Artes, voltei a cruzar o meu percurso com algumas disciplinas das artes plásticas manuais e o gosto voltou a surgir até hoje”, conclui.

A sua formação artística inclui o curso de pintura no IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, tendo também estudado design de comunicação e multimédia na Escola de Tecnologias, Inovação e Criação, e design de comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.