Para já são 12 os corpos já estudados, mas há mais enterramentos para desvendar. Encontraram-se os restos de quatro combatentes, um deles decepado e decapitado. Também há vários objetos religiosos e de adorno.
Foi graças às infiltrações da água de rega de um jardim e devido aos avanços das raízes das árvores existentes em redor da Capela do Tesouro, no Santuário do Senhor dos Mártires, em Alcácer do Sal, que um grupo de arqueólogos locais conseguiu iniciar a escavação da zona, vindo a descobrir, até ao momento, 12 corpos. Destes, quatro são de cavaleiros da Ordem de Santiago e que, a julgar pelos vestígios, terão morrido com violência, possivelmente durante as batalhas de conquista do Algarve aos Mouros.
“Ainda bem que o chão da capela começou a abater (em fevereiro deste ano), porque isso deu-nos a oportunidade de fazermos escavações, de termos feito descobertas arqueológicas muito importantes e, eventualmente, de rescrevermos a História em relação à importância de Alcácer do Sal enquanto sede da Ordem de Santiago”, disse ao Semmais a arqueóloga municipal responsável pelos trabalhos, Rita Bolona.
Segundo esta responsável, foram encontrados até agora 12 corpos no interior da capela mortuária, sendo certo que existem alguns outros por estudar. “Num dos sítios da capela temos os restos de quatro cavaleiros. São todos homens e todos apresentam sinais de violência. Alguns têm fraturas nos fémures e um outro terá sido decapitado e as mãos decepadas. São claros indícios de que poderão ter morrido em combate, até porque já sabemos, depois de junto dos corpos termos encontrado moedas, que acompanharam D. Dinis nas campanhas de conquista do Algarve”.
O segundo conjunto de corpos, de acordo com a arqueóloga, compreende homens, mulheres, um bebé e duas outras crianças. Este grupo, cujos enterramentos foram feito até em sobreposição, já remontam aos séculos XIV e XV. “Seriam os nobres e pertenciam a famílias antigas. Na área da capela onde os descobrimos, contrária aquela onde estavam os cavaleiros, estão a surgir mais restos mortais”, revelou.
Para além das moedas, foram também encontrados diversos objetos de adorno e religiosos, nomeadamente anéis, botões, pregadeiras, contas de colar, crucifixos e alfinetes de mortalhas., assim como cerâmicas, azulejos e vestígios de tecidos.
Rita Bolona diz que estas descobertas atestam a importância de Alcácer do Sal como sede da Ordem de Santiago, onde se manteve até ao século XV, só depois se transferindo para Palmela. “É extraordinário imaginar que o cavaleiro decapitado poderá ter morrido, por exemplo, numa batalha no Algarve e depois ter sido transportado até à sede da Ordem para poder ser sepultado. Sem cabeça e sem mãos”, diz.
Mesmo com as escavações a perseguirem, a capela funerária do Tesouro mantém-se aberta ao público, pelo que é possível a quem ali se desloque poder presenciar o trabalho dos arqueólogos enquanto visita o monumento.
