A situação política e social na Europa está a degradar-se e a guerra na Ucrânia é apenas um dos eixos que vão virar do avesso um mundo cada vez mais polarizado, mais perigoso e difícil de habitar.
São encruzilhadas a que o nosso país não escapará, e um forte revés para algumas das mudanças que estávamos a empreender, nomeadamente a erradicação da pobreza, o ataque às desigualdades e as metas a atingir em prol da sustentabilidade ambiental.
A pobreza e o aumento do submundo social vai agravar-se e os dados estão aí, sem contemplação possível. Em África, por exemplo, onde a fome e o limiar da pobreza crescem, com o conflito no Leste Europeu a conter e a travar o escoamento de bens essenciais, como são os cereais. A inoculação da Covid-19 ficou por índices baixíssimos, enquanto o Canadá, por exemplo, arremessa para o lixo milhões de vacinas.
A ‘guerra’ das energias está a fazer com que muitos países europeus, os maiores, aliás, estejam agora a deixar para trás a descarbonização, numa ‘transição’ que é um recuo e não incorpora esse abate definitivo a prazo das energias fósseis, uma das forças capazes de nos fazer caminhar verdadeiramente para a sustentabilidade.
Os Estados Unidos da América revoga a preceito constitucional da defesa do aborto, enquanto mantém, num revés civilizacional, o direito ao uso de armas dos americanos, independentemente da idade, do sexo e sei mais lá do quê.
Enquanto isso, a loucura de Putin não cessa, e já se fala de reconstrução da Ucrânia, a troco de muitos milhares de milhões de euros, com o mundo ocidental a esfregar as mãos no enriquecimento de uns tantos grupos empresariais que espreitam estas oportunidades de ganhar dinheiro com a desgraça alheia.
Como se não bastasse, já é mais que certo que a Europa vai aumentar o esforço financeiro para o setor militar, dinheiro que vai fazer sangrar outras rubricas importantes, como o setor social, a mobilidade, a saúde ou a educação.
E tudo isto é apenas uma arte do contexto internacional que avaliza esta troca de prioridades e que atrasa as batalhas mais imperiosas deste século em nome das futuras gerações.
Nada ficará como dantes, dando corpo à ideia de que a Humanidade precisará sempre de criar obstáculos para se fazer avançar, mesmo que seja em sentido contrário. Vamos ver…
Em Portugal, o cenário também não é famoso. Desta vez, a nossa localização periférica joga a nosso favor: O PRR em ação; menor dependência das energias russas; longe da guerra, por terra e por mar. Mas a estabilidade política, em que o povo apostou nas últimas legislativas, não é um dado adquirido. O Governo dá tiros nos pés, a oposição à direita delira e à esquerda prepara lutas de rua, em gincanas partidárias e contestação de visão turva sobre o que se está a passar.
São cenários da vida real, com a inflação a galopar e os fundos comunitários a emagrecer a prazo, com novos alargamentos da União Europeia a acelerar no horizonte.
Sejamos estoicos, trocando as palavras pela ação, sabendo lidar com as adversidades, sem perder o Norte, e mantendo a sanidade mental independentemente do que aí vier.
Raul Tavares
Diretor