Ruído ensurdecedor nas equações do aeroporto internacional

Com as ‘guerras’ pela localização do novo aeroporto de Lisboa em alta, mantendo e agravando um problema que afunila e agudiza o transporte aéreo para Portugal, Beja começa a entrar na equação.

Não sou particularmente adepto desta solução no que toca a resolver a questão do aeroporto da capital, mas justifica-se, pelo menos, avaliar duas ou três premissas.

Em primeiro lugar, parece óbvio que em matéria de investimento, segurança e questões ambientais, a base área de Beja ganha alguns pontos. Evidentemente que a distância é a maior, 129 km em linha reta até Lisboa e mais de 170 km de estrada, o que equivale a hora e meia de viagem por comboio, nomeadamente. Na verdade, poderia ser esta a solução para imprimir velocidade aos fortes investimentos na ferrovia e rodovia de que a região necessita.

Há quem defenda, por exemplo, a construção de uma linha de alta velocidade com hub em Beja, numa ligação que aproximava o aeroporto alentejano a Lisboa em 40 minutos, Porto a 80 minutos, Faro e Badajoz a 20 minutos e mesmo Madrid a 125 minutos.

O ministro da tutela, Pedro Nuno dos Santos, é o grande contestatário desta solução, referindo que na Europa nenhum aeroporto principal está a mais de 50 km das suas capitais. E afirma, de forma categórica, que “só defende Beja quem não quer verdadeiramente um aeroporto”.

Nesta peleja, o que sai à liça é o facto de a região continuar sem fala. Não há lobbie, o que quer dizer duas coisas muito distintas. A primeira é que os socialistas, que detém o maior peso político da região, afinam pelo mesmo diapasão do seu ministro ou silenciaram pela voz do ministro; a segunda porque, legitimamente, não acreditam nessa viabilidade.

Mas Beja e as condições que oferece tem que ter um rumo diferente. Neste momento serve apenas instalações militares e o transporte de mercadorias por via área e tem espaço para muito mais.

Em tempos, do ponto de vista estratégico, o antigo ministro João Cravinho, defensor da regionalização, apontava a plataforma de Beja como um centro nevrálgico do desenvolvimento do Alentejo e de todo o Sul do país, servindo de escoador, complementar ao porto de Sines. Neste caso, com a empreendimento do Alqueva a bombar, perspetivava-se um ‘boom’ no setor agroalimentar na região. Nada disto aconteceu. E só nos últimos anos voltaram ao papel os desejos e as metas para uma ferrovia que alinhasse este caminho.

Portanto, tenho duas convicções muito vincadas. As potencialidades da base área de Beja justificam muito mais investimento estratégico e ambição, mas duvido que seria a solução indicada para substituir o aeroporto internacional de Lisboa. Enquanto isso, Beja não mexe, e também não se vislumbram soluções para retirar os aviões dos céus da capital.

Raul Tavares
Diretor