Dores Meira acredita que não houve irregularidades no mapa de ruído de Setúbal

Antiga autarca setubalense deixou ainda críticas a André Martins, atual presidente de câmara, e Rita Carvalho, vereadora com o pelouro do urbanismo, por estes, alegadamente, não lhe terem contactado para esclarecer como decorreram os processos.

A ex-presidente da câmara de Setúbal Maria das Dores Meira afirmou-se hoje “confiante de que não houve irregularidades na adjudicação do mapa de ruído da cidade” e criticou o silêncio do atual presidente, que, disse, conhece bem o processo.

“Estou aqui para assumir as responsabilidades políticas, como é óbvio, e disponível para esclarecer todas as pessoas, as entidades oficiais e as entidades judiciais que queiram esclarecimentos acerca dos processos”, disse Maria das Dores Meira (CDU) em declarações à agência Lusa, na sequência das buscas realizadas na segunda-feira na autarquia sadina pela Polícia Judiciária, por suspeitas de corrupção na adjudicação do mapa de ruído da cidade.

Embora não tivesse recebido qualquer informação do atual executivo – presidido por André Martins, também da CDU, que foi seu vice-presidente e vereador do Urbanismo -, a ex-autarca de Setúbal acredita que na origem da investigação poderá estar a adjudicação de dois contratos para a elaboração do mapa de ruído da cidade, um em 2011 e outro em 2021, no âmbito do processo de revisão do Plano Diretor Municipal (PDM).

Convicta de que na origem do processo estará uma “denúncia anónima”, Maria das Dores Meira afirmou também que “quem anda à procura de uma pedra negra viu uma oportunidade nos dois ajustes diretos para o mesmo fim”.

No entanto, sublinhou que, em ambos os casos, foram observados todos os trâmites legais e justificou a necessidade de se fazer um segundo ajuste direto para a elaboração de um novo mapa de ruído em 2021.

“Entre 2011 e 2021 alteraram-se as leis várias vezes”, disse, lembrando que, devido à construção do que seria o futuro aeroporto do Montijo, “o Governo publicou um despacho com um conjunto de restrições, em termos de planeamento, que obrigou a suspender temporariamente o processo de revisão do PDM de Setúbal”.

“Em 2021, para fechar o processo de revisão do PDM – que foi feito pelos técnicos do município, ao contrário do que se verificou noutras autarquias, que tiveram de contratar empresas especializadas -, foi preciso ajustar todo o trabalho já realizado e elaborar um novo mapa de ruído, porque o primeiro, de 2011, também já não correspondia às exigências da nova legislação”, explicou.

De acordo com a ex-presidente, a câmara de Setúbal teve, por isso, de fazer nova consulta a três empresas, mas só uma respondeu – a que elaborou o primeiro mapa de ruído em 2011 -, tendo-lhe sido adjudicada a segunda versão do documento.

Que geriu este processo, indicou, foi a então diretora do Departamento do Urbanismo e atual vereadora com esta pasta, Rita Carvalho.

“É muito estranho que eles [executivo municipal] não saibam dizer nada em relação a isso. Eu é que não sei, do ponto de vista objetivo e técnico, o que é que foi feito, quer de uma vez, quer da outra”, disse Maria das Dores Meira.

“Mas o vereador à época – que é o atual presidente da câmara de Setúbal – André Martins e a atual vereadora do Urbanismo, Rita Carvalho, nem sequer me contactaram, no sentido de dizer: se precisares de saber alguma coisa, se precisares de saber como decorreram os processos, nós estamos disponíveis para isso”, lamentou, desapontada com a maioria CDU liderada por André Martins.

Maria das Dores Meira, atual vereadora da CDU na câmara Almada, autarquia liderada por uma maioria PS, está agora mais dedicada às empresas que já tinha antes de ser eleita para a câmara de Setúbal, mas não exclui a possibilidade de voltar a ser cabeça-de-lista às autárquicas em Almada, onde reside, ou em Setúbal, onde continua a desenvolver grande parte da sua atividade empresarial.

Na segunda-feira, o município indicou que as buscas realizadas na autarquia incidiram sobre “processos de contratação pública na área do urbanismo” e referiu que iria prestar todos os esclarecimentos necessários às autoridades. Segundo a PJ, até àquela data não havia arguidos constituídos.

Maria das Dores Meira assumiu a presidência da câmara de Setúbal em 07 de setembro de 2006, em substituição de Carlos de Sousa, que renunciou ao mandato depois de ter perdido a confiança política do PCP.

Três anos depois de ter sucedido a Carlos de Sousa, ganhou as primeiras eleições como candidata da CDU à presidência, em outubro de 2009, feito que repetiu por duas vezes, em setembro de 2013 e outubro de 2017, sempre com maioria absoluta e aumentando o número de eleitos e a percentagem de votos – 38,83% (2009), 41,93% (2013) e 49,95% (2017). Em 2021 candidatou-se ao município de Almada.