“A.norm@L” em cena no Teatro-Estúdio António Assunção

Com dramaturgia de Amarílis Anchieta e encenada por Juliana Pinho, a peça transporta o público por uma viagem ao centro da terra.

“A.norm@L” a 60ª criação do Teatro Extremo, está em cena até domingo no Teatro-Estúdio António Assunção, em Almada. Escrita por Amarílis Anchieta e encenada por Juliana Pinho, teve como inspiração inicial a obra da artista visual e plástica Maria de Lourdes Castro, falecida no ano de 2022.

“Esta artista fez um trabalho incrível sobre sombras (anos 70), quando não tínhamos esta facilidade de pesquisa, com a Internet, por exemplo, e recolhi todas essas referências. Num documentário, que vimos e que nos inspirou, fazendo referências a esses trabalhos, ela diz que nós somos como as raízes, há coisas que só crescem na escuridão”, explica ao Semmais, Juliana Pinho.

É a partir deste momento que a companhia decide envolver a comunidade escolar da EB1/JI Feliciano Oleiro, de Almada, no processo criativo para o novo espetáculo. “Quando começamos com os alunos pensava que daqui nasceria uma peça que fosse tratar o tema da violência, muitas das vezes pela dificuldade em aceitarmos as diferenças uns dos outros. No entanto, fomos apanhados de surpresa e um tema que os alunos referiram com alguma curiosidade foi a questão da morte”, revela a encenadora.

As dificuldades emocionais e algum “tabu” com que se lida com esta questão, em especial junto dos mais novos, fizeram, então, nascer as primeiras ideias sobre o trabalho teatral. “Muito dos testemunhos que fomos recolhendo estavam relacionados com isso. Por exemplo, a nostalgia e a morte do primeiro animal de estimação, ou aqueles alunos que atravessam ou atravessaram experiências impactantes, como doenças prolongadas ou mortes de familiares”, sublinha a encenadora.

A obra conta assim a história de Ela, que vai ao fundo da terra, enfrentando os seus medos e receios, para perceber porque é que chora a montanha. “A metáfora é também essa, ir ao fundo da terra é ir ao fundo de si para perceber porque é que dói, para ganhar consciência da dor, da sensação”, destaca Juliana Pinho.

O pequeno elenco trabalha de forma versátil a dramaturgia já que apenas a personagem Ela se mantém fixa no elenco, representada por Dora Sales, enquanto os companheiros de cena, Bibi Gomes e Nicolas Brites representam outras personagens que vão aparecendo, recorrendo a um figurino simples. “É uma constante transformação, porque é como o jogo de faz de conta das crianças. Por exemplo, o ator veste um casaco e passa a ser o homem de pedra, mas se meter umas meias na cabeça já é um coelho”, sublinha a encenadora.