Conto de Álvaro Cunhal inspira nova criação do Fontenova

Adaptação livre recupera obra de antigo líder comunista, que trata de problemáticas vividas durante a ditadura, em especial nas zonas rurais.

Os Barrigas e os Magriços”, uma produção do Teatro Estúdio Fontenova, estreia na Casa da Cultura, em Setúbal, a 15 deste mês, mantendo-se em cena até ao dia 26. A peça para a infância, escrita e interpretada por João M. Mota, Patrícia Paixão e Sara Túbio Costa, surge de uma interpretação do conto com o mesmo nome, da autoria de Álvaro Cunhal, antigo líder comunista.

“A nossa intenção foi criar algo para a infância, mas que tivesse uma mensagem minimamente relevante para o nosso contexto social. Apesar de o conto falar da vida antes do 25 de Abril, em especial da questão rural, dos latifundiários e quem era explorado, fazia sentido fazer uma reflexão e trazê-la para os dias de hoje, nomeadamente sobre as desigualdades que existiam, como é que elas se mantêm e também o que ainda falta fazer”, explica ao Semmais Patrícia Paixão.

Apesar de se tratar de uma adaptação livre, os criadores deram extrema importância ao enfoque da obra. “Fomos tendo várias discussões sobre o que queríamos manter do conto e o que é que este trazia e que queríamos abordar. Tivemos alguns consultores que nos aconselharam, pessoas ligadas a questões mais políticas, de cidadania, direitos sociais e à pedagogia e infância, mas tendo sempre o livro como luz e contexto”, refere a atriz.

Um dos métodos da companhia para poder ir ao encontro do jovem publico foi ouvi-lo e integrá-lo na construção do trabalho. “Tivemos um contacto muito próximo com alunos da Academia de Música e Belas- -Artes Luísa Todi – Setúbal e da Voz do Operário – Pólo Ajuda, em Lisboa. Falámos sobre o livro, mostrámos alguns excertos do nosso trabalho e também fizemos alguns exercícios, para suscitar alguma discussão e abrir o debate. Procurámos perceber como é que os alunos reagiam ao que lhes era mostrado, quais eram as questões e as ideias que eles nos podiam dar”, explica.

Além do trabalho de pesquisa e de proximidade com as escolas, as ilustrações do livro serviram também de inspiração para a parte visual do espetáculo. “Acaba por saltar à vista a questão do país amarelo. O que é que era viver no país amarelo e, também, as questões monocromáticas que depois começam a ter cor. Apesar de ser uma cenografia simples desdobra-se em várias coisas. Por exemplo, como é que um elemento aparentemente simples se pode transformar em múltiplas formas? Talvez como nós fazemos quando somos crianças, transformamos um lençol ou uma caixa em diversas coisas”, sublinha Patrícia Paixão.