Foi há dez anos no Dia Mundial do Teatro, que aconteceu o que hoje podemos considerar um passo fundamental na pré-história da Mascarenhas-Martins.
Estava eu a fazer um estágio-emprego no Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida (um daqueles estágios do IEFP que, como o nome indica, deveriam ser uma espécie de preliminar para o emprego, mas apesar dos esforços do então Vereador da Cultura, José Francisco dos Santos, a Câmara Municipal do Montijo não me contratou) e surgiu a hipótese de ser a equipa do CTJA a propor qualquer coisa para apresentar.
Não me recordo com exactidão de como tudo se processou, mas o que é certo é que se montou uma estrutura em quatro partes, que incluía uma visita aos bastidores, um momento sobre Joaquim d’Almeida (que começava por esclarecer que o actor em causa não é o nosso contemporâneo, mas sim o que viveu entre 1838 e 1921), uma coreografia e uma versão curta d’O Velho da Horta, de Gil Vicente. Para além da equipa do CTJA, a iniciativa contava também com a colaboração de várias pessoas do Conservatório Regional de Artes do Montijo.
Sei que fui eu a coligir os textos e a propor que fizéssemos esta pequena peça, que na realidade a Maria e eu já tínhamos pensado em fazer noutro contexto. Convidei a Maria, que na altura trabalhava em Sesimbra e, embora actriz profissional, aceitou vir de borla, e também o Humberto Machado, amigo com quem contracenei no Fatias de Cá.
Ao recuperar a ficha artística dessa adaptação da peça vicentina, surge ainda o nome do Adelino, que assinou cenografia, luz e figurinos. Fizeram-se apenas duas apresentações, uma a 27 de Março, outra a 30. Foi uma experiência discreta, mas marcante, sem a qual possivelmente não teríamos avançado para a fundação da Mascarenhas-Martins no início de 2015.
Para a folha de sala dessa iniciativa escrevi um texto que terminava com a frase: “E o mundo bem que está a precisar de histórias de amor”, dando a entender que aquilo que ali se apresentava tinha como base uma dessas histórias. Era a manifestação do amor que a Maria e eu tínhamos ao teatro, às artes em geral, e um ao outro, mas também a história do nosso amor pelo Montijo, que começou pela amizade de um conjunto de pessoas: Adelino Lourenço, André Reis, Susana Bordeira, Duarte Crispim (grupo de amigos que depressa se alargou, mas que refiro aqui por terem sido as pessoas mais próximas nesse ano longínquo de 2014 e talvez as que mais nos incentivaram a ficar).
Não tenho dúvidas de que foi desse entusiasmo que se foi edificando este projecto de Companhia, que embora tenha crescido ao ponto de poder ser hoje vista quase como uma instituição, continua a ter como base, pelo menos para mim e sei que para a Maria, a mesma premissa: a de nos permitir dedicar as nossas vidas à criação artística, seja da perspectiva de quem cria, como de quem dá a conhecer, acolhe, proporciona formação, enfim, seja o que for que permita partilhar esse entusiasmo de sempre com os outros.