Os avanços do mar, as ondas de calor, a emissão de gases de estufa e a qualidade dos edifícios são fatores de risco identificados e discutidos no âmbito do projeto “Almada Neutra em Carbono 2050”.
A câmara de Almada espera ter reduzido as emissões de gases de estufa em 55 por cento em 2030 e ter atingido a neutralidade carbónica, o mais tardar, em 2050. Para tal é necessário, dizem os especialistas ambientais, mitigar os principais problemas já detetados nos setores específicos dos transportes e da construção de edifícios de serviços e residenciais. Também o processo de adaptação às alterações climáticas é fundamental para obtenção dos objetivos. Há, dizem os peritos, sérios riscos de saúde que podem atingir severamente os idosos e as crianças.
O projeto “Almada Neutra em Carbono 2050” foi apresentado quarta-feira, no Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Tratou-se da apresentação de dados que servem para caracterizar a atual situação ambiental do concelho, ao mesmo tempo que visou recolher contributos que possam ajudar a mitigar os problemas já identificados.
Em declarações ao Semmais, o técnico camarário responsável pelo setor do ambiente, Duarte Mata, referiu que em 2019 (os dois anos que se seguiram, por serem em período de Covid, não são indicados como perfeitos estatisticamente e 2022 ainda não tem todos os elementos compilados) terão sido libertados na atmosfera, na área do concelho, cerca de 574 quilotoneladas de CO2, o que correspondia a cerca de 3,24 toneladas por habitante.
“Construir um plano de ação climática para o concelho é obrigatório e de extrema utilidade. Temos de reduzir as emissões de gás com efeitos de estufa em 55 por cento até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050”, disse Duarte Mata que, exemplificando os casos que atualmente, em termos climáticos, se apresentam como mais problemáticos, referiu “o galgamento por parte do mar na zona de São João da Caparica” e “a adoção de medidas que protejam a população das cada vez mais frequentes ondas de calor”.
A invasão do mar em zonas como São João da Caparica está, de resto, identificada como “grave” há vários anos. A junta de freguesia local, em colaboração com a autarquia, têm realizado diversas operações, entre elas a criação de uma barreira de plantas que consiga suster a degradação do sistema dunar.
Calor excessivo vai afetar crianças e idosos
O perito municipal entende que é necessário rever os modos de construção, uma vez que de acordo com os moldes atuais há cada vez mais zonas de terreno impermeabilizadas e, em consequência, aumentam os efeitos das ondas de calor. “Este problema faz-se sentir cada vez mais em zonas como Almada, o Feijó, o Laranjeiro e a Sobreda da Caparica. O calor excessivo vai provocar sérios problemas de saúde na generalidade da população, mas sobretudo nas crianças e nos mais idosos. É por isso que é preciso tomar decisões urgentes. Uma delas, por exemplo, consiste em criar mais zonas arborizadas. Em Almada já está prevista a plantação de 900 árvores”, avançou.
“Temos, igualmente, de ter em consideração que existe um estado de pobreza energética. Há muita gente que não tem capacidade financeira para dotar as suas casas com os meios que lhes garantam proteção contra o calor ou o frio”, acrescentou ainda o especialista.
Sobre as emissões carbónicas, Duarte Mata disse que é fundamental melhorar o sistema de transportes e mobilidade. “É importante melhorar todo o tipo de transportes, sobretudo as frotas que constituem os transportes públicos. Devemos fomentar a utilização partilhada de automóveis, do mesmo modo que devemos incentivar a utilização de bicicletas e as deslocações apeadas”, explicou.
Defensor do planeamento que defenda a sustentabilidade ambiental, o especialista da câmara defende igualmente que a construção, seja de edifícios residenciais, seja de outros destinados a albergar serviços, deve ser cada vez mais criteriosa, com o recurso a materiais que valorizem a eficiência energética.