Primeira Retoma vingava ainda o governo de Durão, o promissor do de Santana Lopes (ironia do destino), quando o então Presidente da República, Jorge Sampaio, participou nas comemorações do 30º aniversário do 25 de Abril numa visita ao Forte de Peniche. Foi rodeado de “bandos de miúdos da escola” e teve a acompanhá-lo um outro histórico dirigente do PCP, Jaime Serra, que relatou ao pormenor a espectacular fuga (iremos já à outra) daquele mesmo lugar, a de 3 de Janeiro de 1960, protagonizada por ele próprio e ainda Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Francisco Miguel, Pedro Soares, Rogério de Carvalho, Guilherme Carvalho e José Carlos. Logo na Visão de 29 de Abril, num texto de Ana Margarida Carvalho, “Jaime Serra relembra como tudo aconteceu naquela noite em que fugiram dez. Meses a fio a planear a evasão em massa, com a ajuda do exterior. A travessia debaixo do capote de um guarda, conquistado para a causa por Joaquim Gomes. O carro, de Rogério Paulo, de capô levantado, que apareceu a dar o sinal no largo. O muro e as duas muralhas que foram vencidos com alguns percalços…
Atrás dos fugitivos ficou um guarda narcotizado, muitos presos que haveriam de experimentar o mais infernal regime prisional das suas vidas, e os acordes da Sinfonia Patética de Tchaykovsky, a soar no gira-disco. Um dos miúdos que escuta toda a narrativa da fuga comenta: “É preciso ser esperto.” – ao que Jaime Serra contrapôs (um termo pesado, talvez, mas é nosso), em final de texto: “Não. É preciso ser preso!”
Segunda: o PCP não foi exactamente o Partido que o fascismo “ilegalizou”, o PCP foi o Partido que para melhor combater a ditadura decidiu passar à clandestinidade. Assim disse António Dias Lourenço em Aires, Palmela, o século XX a findar! numa sessão a propósito de um mesmo salto das mesmas muralhas mas dele, só, para o mar, noutra noite de Dezembro de 1954, quando a todos pareceu, envoltos do momentâneo silêncio de uma casa cheia (o Grupo Desportivo e Recreativo Airense), não haver rosto que não deixasse trair uma espécie de perplexidade: “Dito assim, nunca tínhamos pensado nisso!”
Passavam duas semanas, o PCP comemorava, na Casa do Alentejo, em Lisboa, com a presença de Jerónimo de Sousa, o 100º aniversário do nascimento de Joaquim Gomes inaugurando uma Exposição que percorreria o país. “Nasceu a 9 de Março de 1917, na Marinha Grande, começou a trabalhar aos 6 anos numa fábrica de cristalaria a fechar moldes, participou como aprendiz vidreiro na Luta das Alpergatas, uma greve por melhores condições de trabalho, em 1932, com 14 anos adere à Federação das Juventudes Comunistas” – eis o início.
“Aquando o 25 de Abril era responsável pela organização regional de Setúbal, acompanhando a partir daí a organização do Alentejo”. Numa fotografia, lá estará com Álvaro Cunhal na Mesa da Presidência da I Assembleia da Organização Regional de Setúbal no Pavilhão Antoine Velge, do Vitória, se bem nos recordamos (e se não nos enganamos), uma semana depois da sua inauguração em 1982.
Não transcrevemos aqui deliberadamente algo das palavras de Joaquim Gomes. Mas sim de como a exposição (havia um catálogo em número massivo que a acompanhava) de certo modo nos centra numa outra dimensão das relações humanas: “conseguiu perscrutar no olhar do guarda da GNR que viria a facilitar a fuga não o ódio, mas a revolta pela sua própria situação”, sendo outra fotografia a da “casa em Runa, Torres Vedras, onde estiveram ambos após a fuga”, como já foi dito, dos dez.
Aderir – eis o que é sempre possível!
3ª retoma, este último parágrafo, à data de hoje: escrevemos sobre uma I Assembleia que fica na História da Cidade, daquele Estádio e dos seus associados, haja o que houver!