Novos modelos sociais e económicos, como ultrapassar as fraquezas dos modelos em vigor

A ideia de um salário universal que permita uma vida moderadamente realizada parece agradável, mas pode levar a que muitas pessoas não procurem sequer trabalhar, inquinando todo o conceito. Também é necessária uma reforma sociológica e de mentalidades, pois a sociedade actual está orientada para o consumismo, e este novo modelo pressupõe uma moderação do consumo.

Por este motivo, o conceito do rendimento universal está intimamente ligado a transformações sociais com uma forte vocação ecológica, de reciclagem e transformação de materiais, mais assente na economia circular em lugar da actual economia linear.

Por outro lado, e muito importante é saber onde é que os Estados se vão financiar para manter o rendimento universal. Existem correntes de pensamento que preveem que precisamente a automação e a inteligência artificial irão aumentar tanto a produção, que as empresas e o Estado (directa ou indirectamente) irão ter um aumento expressivo da riqueza arrecadada.

Enquanto há quem pense que a automação e a inteligência artificial vão aniquilar empregos, conduzindo a milhões de desempregados sem futuro de empregabilidade, há também quem veja nesta transformação social radical uma janela de oportunidade para a criação de novos empregos, mais tecnológicos e também mais ecológicos ligados a esta nova realidade. É, contudo, imperioso iniciar desde já a transformação, não apenas de mentalidades, mas de aposta na formação e requalificação laboral, tendo em vista o futuro próximo.

Embora este conceito hoje nos pareça quase uma utopia, é um conceito interessante, que vale a pena abordar e aprofundar, tentado encontrar soluções a aperfeiçoamentos deste modelo, pois poderá vir a ser uma realidade.

Até lá teremos de nos focar no imediato, tentando melhorá-lo.

Assim, para manter o estado social, teremos em primeiro lugar de falar verdade à pessoas, sem eleitoralismos ou paternalismos, explicando a situação actual, as projecções para o futuro e quais as alternativas, fazendo com que as pessoas possam ter uma opinião formada sobre, como qual País, pretendemos vir a ter.

As propostas terão de ser sensatas e equilibradas, não penalizando quem já tem uma carreira contributiva longa, nem sacrificando os mais jovens para benefício dos mais velhos.

Teremos de promover o emprego, digno, igualitário e inclusivo. As pessoas e as empresas terão de ter sinais de que é importante e valorizado o emprego, qualquer que ele seja, pois ele confere dignidade ao ser humano e permite que este contribua, na medida do seu salário, para um bem comum do qual todos podem usufruir, reduzindo a subsidiodependência.

Esta promoção do emprego tem várias vertentes: penalização da manutenção de contratos a prazo e falsos recibos verdes, combatendo deste modo o trabalho precário; desincentivação das reformas antecipadas; flexibilização dos horários de trabalho para aumentar a natalidade, já que é imperativo inverter a pirâmide etária; integração dos migrantes no sistema social, conferindo vistos com contratos de trabalho sérios e fiscalizados; promoção do envelhecimento activo e do emprego sénior, com valorização da reforma se o contribuinte quiser manter-se no mercado de trabalho após a idade legal da reforma ou criação do conceito de reforma parcial, em que o indivíduo se mantém voluntariamente a trabalhar em horário reduzido, com salário parcial e reforma parcial até à aposentação completa.

Teremos ainda de repensar a nossa cidadania: ensinar literacia financeira nas escolas, debater o estado social e as repostas que queremos para a nossa sociedade, transformar a nossa economia numa economia circular, verde e ecológica, moderando o consumismo, regulamentar o mercado de trabalho e promover a dignidade e a inclusão.

Não nos esperam tempos risonhos, mas se continuarmos a querer ignorar o problema, nunca conseguiremos encontrar soluções.