Este governo ainda não provou nada do que diz ter feito. Fez anúncios, geriu alguma contestação que se fazia sentir por parte de alguns setores profissionais e acompanhou uma política de benesses sociais que sempre criticou na oposição.
Percebe-se a ideia, que é ocupar um espaço importante alegadamente ocupado pelos socialistas, junto da população idosa, dos mais desfavorecidos e de uma certa faixa da classe média.
Com estas políticas, a AD de Montenegro não assumiu ainda ruturas, não planeou reformas, nem mostra algum vislumbre estratégico sobre o que quer para o país num futuro próximo.
Posicionou-se ao centro, disputando eleitorado com o PS e, por isso mesmo, os partidos a sua direita, Chega e IL, nomeadamente, estão descontentes e a afastar-se paulatinamente.
Mas, do ponto de vista político, está de certo modo a encurralar Pedro Nuno Santos, que não pode fazer muito mais que acompanhar algumas medidas que também defende no seu programa político. Diz Montenegro que tem o país ao seu lado. Desconfio que seja mais uma das perceções que tem norteado a política nos últimos anos. E porquê?
Sejamos claros: Este Governo tem pouco tempo de atividade e, como tal, não se pode pedir que resolva tudo de uma vez e à pressa. Mas foi Montenegro e a sua coligação que clamou aos portugueses, na hora de pedir o voto, que iria resolver os problemas e o caos que grassava na saúde, na educação e por aí fora. E foi com essa arrogância política que ganhou as eleições e o direito a governar, mesmo que sem maioria. Ora, essas mudanças não ocorreram, antes pelo contrário. Agravaram-se fechos hospitalares, nascem crianças na via pública, e só na região, a beira do arranque do ano escolar vão estar sem professores a todas as disciplinas cerca de 28 mil alunos.
Não era suposto que a equipa de Montenegro lograsse resolver estes caos em poucos meses, mas garantiram que o iriam fazer.
Nem vale a pena falar das demissões compulsivas, mudanças de boys e trapalhadas que estão a ocorrer em muitos organismos e instituições públicas, que nunca ficam ilesas da voracidade do poder. Nisso, PS e PSD são muito iguais. Mas esta AD está a abusar.
Mas o que importa agora é não alimentar a fogueira e isso significa que Montenegro deve governar até ao fim da legislatura, para que não se diga que não teve tempo de mostrar o que vale. Defendo, como sempre defendi (com exceção do fatídico mandato de Santana Lopes) que as legislaturas devem ser para cumprir. A menos que algo aconteça de tal gravidade que não haja outra solução que voltar a ouvir o povo soberano.
Para que isso se cumpra, a AD tem que negociar de forma clara, mesmo que isso implique cedências. Que as explique depois ao povo!
O que não pode suceder é este toca e foge, num misto de arrogância e espírito institucional que turva os caminhos a seguir.
Se no final, o país estiver melhor, antes assim. Se não estiver, que funcione a alternância democrática.
Desejo, sinceramente que este não seja um tempo perdido. Porque isso é bom para o país e é bom para os portugueses.