Evocamos nesta edição os dez anos do Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Unesco, celebrando as modas ancestrais que fortalecem, aos longo dos anos, a identidade destas gentes laboriosas que das planícies alentejanas partiram também para outras partes do país à procura de melhores vidas.
A península de Setúbal é, muito provavelmente, a região do país onde mais se concentram estas raízes e esta genética, vertidas por uma diáspora que tem somado gerações desde os anos 60 e 70. Foi o ‘boom’ da industrialização deste território que arrastou muitos homens e mulheres oriundos das planícies alentejanas, para as fábricas do complexo industrial da CUF, no Barreiro; da siderurgia do Seixal; da Lisnave, da Margueira, em Almada, e da indústria conserveira, em Setúbal.
E mesmo passados tantos e tantos anos, e até a viragem de séculos, de aculturação, ainda se sente e vivência através de linguajares, pronúncias e dialeto.
Esta presença da ‘tribo’ alentejana às portas da capital e de contextos mais cosmopolitas e citadinos, carregados de vidas competitivas e aceleradas, não olvida as raízes.
Os grupos corais, com o Cante à cabeça, fazem parte desta marca indelével do ‘ser alentejano’, em comunidades abertas, adaptadas, integradas, mas sem perder identidade.
Mesmo com as novas gerações a perderem algum interesse, a verdade é que na península de Setúbal ainda subsistem cerca de uma vintena destes grupos que lutam por manter as tradições. E fazem de tudo para lhes garantir continuidade, seja no recrutamento de jovens, seja pela sensibilização das comunidades escolares.
São valores imutáveis que o Cante carrega, e que a classificação da UNESCO veio amplificar, gerando um interesse considerável no Alentejo e no país. As casas de Cante não pulverizaram da maneira que se esperaria, mas há uma nova geração de autores e cantores que garantiram esta força que os cantares alentejanos tão superiormente alcançam.
Que as autoridades saibam continuar a manter esta chama tão diferenciada que alumia e celebra uma comunidade de gentes laboriosas e capazes de guindarem a um futuro risonho.