Escrevo estas linhas ainda a quente, sobre a mais que certa eleição de Trump como presidente dos Estados Unidos da América. Não sendo totalmente surpreendentes, os resultados espelham uma realidade política, económica e social que não é fácil de descortinar deste lado do Atlântico.
De certa forma, a figura de Trump repugna-me. Nos últimos anos tenho lido muita literatura sobre este homem e televisionado inúmeras reportagens insuspeitas sobre este homem que começou a trilhar o seu caminho a partir de uma família abastada, colado ao pai austero e aproveitando um irmão sénior que preferiu viver a vida. Essa dureza e o seguidismo paterno moldou-lhe o carácter e levou-o a caminhos quase sempre sombrios. Opulentos, mas quase sempre rasteiros.
São múltiplas histórias de sucessos oportunísticos, fracassos, fraudes, conspirações e intrigas, a par de quotidianos de mentiras, falsidades e tramas. Donald Trump é figura maior dessas façanhas mundadas.
Mas ganhou em toda a linha, do voto popular ao colégio eleitoral, e prepara-se agora, livre de oposição categórica, para impor as suas leis, amplamente anunciadas aos milhões de americanos que lhe confiaram o voto.
Com o mundo em negação face às alterações climáticas, com duas guerras a escalar e acesas disputas que prometem avolumar a ganância na economia global, Trump pode ser o cavaleiro apocalítico indesejável.
Francamente, não esperava este desfecho e, muito menos concebia ser aspectável que mulheres, jovens, negros e migrantes latinos, asiáticos e de outras paragens, atacados e vilipendiados por este homem, pudessem dar-lhe o voto.
Julgo mesmo que só na América, da profunda à urbana, seria possível que um candidato acusado e condenado, eivado de uma moral e de um humanismo muito duvidoso, lograsse ascender a este patamar, voltando agora a liderar este enorme país. Funcionou o populismo cavalgado em cima da economia e da imigração. Os americanos gostam de guerras além fronteiras, mas não convivem bem com instabilidade e segurança ao pé da porta.
Na cena internacional espera-se, sobretudo, um assomo de responsabilidade face aos dislates de Trump, nomeadamente que algumas das suas ameaças não se verifiquem, desde logo os compromissos e as metas ambientais, o desinvestimento na NATO, as tarifas comerciais com a Europa e suas posições sobre as guerras da Ucrânia e da Palestina.





