Não consigo entender porque é que os Estados Unidos de Trump querem fragilizar a Aliança Atlântica, chegando ao ponto de insinuar que podem mesmo deixar a NATO, que tem sido sustentada por um esforço coletivo que mantém a sua estrutura de missão ativa e global.
Percebe-se que a Europa desinvestiu na sua vertente bélica e de segurança e, face às ameaças e riscos, precisa de recompor esta situação, mais que não seja por estratégia de dissuasão. Mas é igualmente verdade que o nosso espaço europeu está pejado de bases militares estratégicas sob usufruto americano, fundamentais para os seus interesses globais, embora o pretexto maior seja a defesa do Continente.
Tenho dúvidas, ou pelo menos desconheço, se estas estruturas militares, que envolvem custos logísticos, territoriais e políticos estão a ser devidamente pagas pelo seu uso e abuso. Mais: parece que o custo anual indireto para os países anfitriões europeus ultrapassa os mil milhões de euros, enquanto que, por esta via, os Estados Unidos beneficiam de projeção global sem arcar proporcionalmente com esses encargos. Ora, julgo haver aqui um desequilíbrio que, no mínimo, levanta questões sobre justiça e reciprocidade dentro da aliança.
A contribuição direta para o orçamento comum da NATO assenta numa fórmula baseado no PIB de cada aliado, sendo que os Estados Unidos, segundo as fontes mais fidedignas, contribuem com 16,2% do valor global e os demais trinta parceiros com o restante. Claro que há outras comparticipações, mas não nos podemos esquecer do robusto envolvimento militar dos americanos à escala mundial.
Outra coisa são os gastos nas forças armadas de cada um dos parceiros. E por isso Trump e o seu séquito exige mais investimento por parte dos países da aliança, entre 2 a 3 por cento, alegando que EUA gastam acima dos 3,5 por cento. Muitos dos Estados europeus ainda gastam menos de 2 por cento do PIB, mas Polónia, Grécia e Reino Unido já atingiram ou ultrapassaram esta meta.
Em conclusão, embora os Estados Unidos gastem mais com defesa, isso decorre em grande parte por razões próprias de segurança global. E importa debater este equilíbrio entre o benefício estratégico que os americanos obtém e o apoio europeu indireto com território, logística e estabilidade.