Há 120 criadores em Portalegre, Évora e Beja

LIMOUSINE RENDE MAIS DE CINCO MILHÕES

A raça de vacas originárias de França é a que melhores índices produtivos apresenta e também a mais procurada para fazer cruzamentos. Os criadores temem que as alterações climáticas e as diretivas comunitárias possam reduzir efetivos.

TEXTO JOSÉ BENTO AMARO IMAGEM DR

A venda de gado de raça Limousine em Portugal gera, anualmente, cerca de sete milhões de euros. Deste montante, cerca de 80 por cento (mais de cinco milhões de euros) é gerado no Alentejo, onde existem mais de 120 produtores registados. Entre o gado exótico – o que não é autóctone – o Limousine é o mais representado e aquele cujas características permitem um melhor aproveitamento para carne e para o cruzamento com outras raças.
Os animais em causa, de acordo com o presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Raça Limousine (vulgarmente designada por ACL), Leandro Flores, possuem características especiais que lhes permitem “uma grande adaptação ao meio que encontram em Portugal (são originárias de França), revelando não só grande capacidade para se cruzarem com outras raças, mas também excelentes resultados no que diz respeito à aptidão cárnica, ao fácil maneio, à docilidade e à capacidade leiteira para as crias”.
“Face a todas as suas boas caraterísticas os exemplares Limousine representam hoje 75 por cento de todos os reprodutores nacionais, sendo perfeitos para efetuar cruzamentos seja com outras raças exóticas, seja com as raças nacionais”, referiu à Semmais Leandro Flores. Para se ter uma ideia do valor desta mais valia, o presidente da ACL disse que este organismo valida anualmente, só para efeitos de produção de carne, “mais de 40.000 animais cruzados de Limousine” (no ano passado, de acordo com os dados estatísticos, foram 41.800”. “Mas os números de cruzamentos anuais são mais elevados, pois nem todos os produtores dão conta dos cruzamentos, um facto que, de resto, não constitui qualquer ilegalidade”, acrescentou.

Na região estão registados cerca de 4 mil exemplares

A Limousine, ainda de acordo com os dados disponibilizados nos sites dos criadores, tem um aproveitamento por carcaça que oscila entre os 60 e os 65 por cento. Este é um valor que só é igualável, nas espécies produzidas em Portugal, pela raça Charolesa, sendo que esta, no entanto, fica a perder quando se faz a “estiva” da carne (nome dado ao processo que afere as quantidades de carne e osso).
O peso desta linhagem no Alentejo expressa-se pelos números. Leandro Flores diz que atualmente existem no país, registados no livro genealógico, cerca de 6.000 exemplares Limousine, sendo que cerca de 4.000 estão no Alentejo. Esta é a raça exótica dominante sendo que, entre as nacionais, só há efetivos maiores entre as Mertolenga, Alentejana e Brava.
“A importância da criação desta raça para o Alentejo é fácil de aferir. Se sabemos que existem 4.000 vacas registadas e que essas produzem anualmente 3.500 vitelos, sendo que uma metade são fêmeas e tem um custo de 1500 euros por cabeça, enquanto a outra metade é constituída por machos avaliados, por cabeça, em 2500 euros, concluiu-se que o valor das vendas anuais atinge os sete milhões de euros”, explicou o presidente da ACL.

Carne de vaca pesa cerca de 18% nas exportações

A exportação de animais cruzados com Limousine é uma das principais fontes de receita nacionais. O responsável da ACL afirmou mesmo que, atualmente, o peso dessa atividade corresponde a “cerca de 17 ou 18 por cento” do que Portugal vende para o estrangeiro.
“Portugal está vocacionado para a exportação gado, sendo que os principais mercados são Israel (para onde se fazem vendas há três anos) e Marrocos. Estes números são bons para o Alentejo, onde existe o maior número de animais da raça Limousine e onde existem também quase metade dos produtores nacionais”, expôs Leandro Flores.
Apesar dos muito satisfatórios resultados que a atividade tem vindo a gerar (as primeiras vacas Limousine chegaram a Portugal há 30 anos, para o Alentejo e para o Montijo), o presidente da ACL teme que em breve possa existir algum retrocesso.
“Há dois fatores que podem ser entraves. O primeiro tem a ver com as alterações climáticas. A falta de chuva leva à falta de pastagens e de água para os animais. Isso obriga os produtores a fazerem mais gastos, podendo ter como consequência a diminuição de efetivos e, portanto, de exportações, de venda de carne e de receitas”, explicou o responsável associativo.
O segundo obstáculo de monta que se parece erguer tem a ver com o que os produtores afirmam ser “a opinião política”. Numa altura em que muita gente diz que a criação de vacas contribui para o aumento da produção de carbono, os criadores portugueses vivem na incerteza do surgimento de diretivas comunitárias que determinem a diminuição do número de efetivos. Se tal acontecer, alegou Leandro Flores, muitas explorações nacionais podem ser afetadas e, até, deixar de ser rentáveis.