2021 – O Regresso ao Futuro

ENTRADOS que nos encontramos num novo ciclo anual, poderíamos ser induzidos pelo título a considerar a existência de um qualquer desfasamento ou incongruência temporais, porquanto estaríamos perante uma manifesta desconsideração do calendário gregoriano e do natural fluir dos tempos.

No entanto, se nos ativermos às matérias e aos assuntos de natureza política, não se nos mostrará de excessiva complexidade a conclusão de que, sendo o ano em curso parcimonioso em factos com significado neste domínio, 2021 revestir-se-á de indesmentível importância, na medida em que teremos dois actos eleitorais que, embora com alcances diversos, são similarmente relevantes: as presidenciais e as autárquicas.

Não obstante a tentação para tecer considerações no que às eleições presidenciais exclusivamente diz respeito, a temática das autárquicas no Concelho de Alcochete apresenta-se mais intensamente apelativa, por razões de índole diversa, mas fundamentalmente por não vislumbrar resquícios de dúvidas acerca da crescentemente indesmentível incapacidade que a maioria que resultou do acto eleitoral realizado em 2017 revela em termos governativos.

Aliás, se os referidos vestígios de incerteza quanto à competência ou o seu inverso teimosamente permanecessem nas nossas consciências, a respectiva diluição e supressão certamente decorreriam da análise da narrativa política inicial adoptada – no que à situação financeira respeitava – e imediatamente contrariada pela verdade dos factos e, ainda, da inenarrável incompetência demonstrada na execução de um vastíssimo e abundante acervo de obras que foram pensadas, projectadas, financiadas e programadas pela anterior maioria política da CDU nos órgãos autárquicos municipais, sendo o exemplo mais paradigmático a aberrante gestão política das obras de requalificação do Miradouro Amália Rodrigues.

Constituir-se-ia porventura como um exercício intelectual estimulante ficcionar o que seria a governação da actual maioria se, apesar de procurar dissimulada e desesperadamente demonstrar o contrário, não se limitasse à tentativa de prossecução de um verdadeiro e consolidado projecto político que, desde a instituição do Poder Local Democrático, promoveu e concretizou uma estratégia de desenvolvimento para o Concelho de Alcochete, em que os cidadãos sempre estiveram realmente e não demagogicamente no cerne das políticas públicas implementadas e não foram convertidos em meros destinatários de processos “ trumpianos” de pseudo-comunicação institucional : o projecto político da CDU. 

Contudo, atendendo às capacidades patenteadas pelos protagonistas da actual maioria política, esse esforço neuronial seria inequivocamente inglório e correspondente à inutilidade da presente governação, de quem, não fossem por si mesmas suficientes as confrangedoras incapacidades de execução de obras públicas caídas no respectivo regaço, não se conhece um pensamento próprio e inovador que projecte um futuro para o concelho e suas populações. Impondo este miserabilismo político o apelo para que, no mínimo, durante o tempo remanescente do mandato ainda em curso, citando livremente as palavras de José Hermano Saraiva num programa que tinha por temática as obras de construção da Ponte Vasco da gama, “não estraguem mais Alcochete”.

As razões descritas – que se encontram necessariamente sumariadas e comprimidas – justificam a antecipação do significado e relevância das eleições autárquicas que se realizarão em 2021, porquanto poderão e deverão destas resultar uma alteração política e governativa que permita retomar o rumo do pensamento político estruturado e do planeamento, que proporcione o desenvolvimento económico, social e ambiental, que garanta a conciliação entre a tradição e a modernidade e a inovação e que recupere o posicionamento estratégico do concelho nos contextos metropolitano e nacional. Ou seja, que 2021 permita a Alcochete regressar ao futuro.

Luís Miguel Franco
Colaborador