A divergência como pólo aglutinador da convergência

NO DEALBAR de um novo ano, fazem-se promessas individuais e deseja-se que, no coletivo, os fatores da vida quotidiana sejam alterados. Mas as atitudes de alguns protagonistas nem com os foguetes de 31 de dezembro fazem acender uma luz na capacidade de inteligência.

Gostaríamos que esta fosse a última campanha eleitoral interna no seio do PSD, que decorresse num período em que as pessoas estão mais atentas à familia, às rabanadas e a todas as calorias, consequentemente quando acordam para a vida real, dizem que não estão esclarecidos. Na realidade o modelo de prática política para os próximos anos está perfeitamente clarificado, de um lado há uma vontade em assumir a rutura e estratégia para o país e do outro lado manter um partido secundário esperando que o poder caia nas mãos. Nesta última postura, convictamente o poder irá por rio abaixo, porque somos defensores do modelo dual também na política, não há meio-termo.

Veja-se a política anglo-saxónica, de um lado republicanos e do outro lado os democratas, ou conservadores versus trabalhistas. Sempre que uma das hostes se baralha e não tem um projeto concreto o país fica confuso. 

Uma liderança institucional tem a obrigação de saber conviver com a divergência e colher os melhores contributos e recursos para a defesa do partido político, do clube ou de qualquer outra instituição. Ao invés, num país, um Governo só é forte e assume a arte de governar bem se tiver uma oposição feroz; a acomodação ao poder governativo, permite navegar à bolina dos ventos, mas o país sai prejudicado.

No início do ano 2020 seria bom que houvesse uma nova cultura de cidadania, tendo alguns dos pressupostos atrás enunciados. 

Também no desporto, tal se verifica, maus exemplos, há por aí dirigentes cobardes e fracos que só levantam a voz para os que estão mais fragilizados momentaneamente nos clubes, porque falta coragem aqueles, na defesa institucional da coletividade que dirigem, por ser mais fácil desempenharem um papel secundário e subalterno na estrutura desportiva, nomeadamente no futebol. 

Como ficaríamos gratos com alguma mudança de mentalidade das pessoas no início de mais uma década.

Mas, estamos cientes que pouco ou nada vai mudar, enquanto não for feito um trabalho sério e honesto e de educação nos jovens e crianças, incutindo valores da liberdade de pensamento, da diversidade e respeito pelo humanismo independente da cor de pele, da religião e da conta bancária.

Se um doido carregar num botão de uma arma nuclear, as vítimas desta são atingidas sem qualquer descriminação social, será importante olharmos nesse sentido e também termos a coragem de, enquanto cidadãos, denunciarmos crimes que afetam muito qualquer sociedade e comunidade como por exemplo a corrupção. Não podemos dizer que os outros são corruptos e falta coragem em apontar as setas quando aquelas tocam aos mais próximos.

Podemos garantir que, da nossa parte, não será o barulho dos foguetes de novo ano que nos fará ficar em silêncio, quando algo não nos agrada, mas sabemos construir pontes de diálogo se do outro lado também há disponibilidade para tal.

A todos, nesta alvorada do ano 2020, desejamos o maior sucesso e felicidade, não podendo deixar uma palavra ao diretor deste jornal, Raul Tavares e a toda a equipa por todo o crescimento que prosseguem e, acima de tudo, porque nestas páginas é cultivado o espaço aberto e livre de pensamento, com opiniões divergentes, mas que convergem no intuito de chegar aos leitores.

Zeferino Boal
Colaborador