Tempo de repensar o apoio aos idosos

Agora que a diminuição dos números levaram aos primeiros passos do necessário e urgente desconfinamento controlado, bem como a uma maior tranquilidade nos hospitais, as atenções desta fase da pandemia têm-se centrado nos lares e residências para idosos.

Há várias lições a retirar neste aspeto e nem todas abonam a favor de um Estado que devia trata dos seus mais velhos e das gerações que muito fizeram pelo país e pela comunidade.

Noutros lugares do mundo, não tenhamos dúvidas – mesmo que seja um pensamento algo macabro – haverá quem pense que a mortalidade das populações mais idosas seria sempre um fabuloso salto para a sustentabilidade das políticas sociais, para as estatísticas sobre o envelhecimento populacional e para tantas outras equações possíveis de determinar.

Felizmente, e apesar de tudo, o caso português é diferente. Cuidar da nossa terceira idade faz parte de uma cultura enraizada na sociedade e no Estado, embora nem sempre da melhor maneira, seja pelas parcas reformas que algumas gerações tiveram e têm com que se confrontar, seja pelas condições miseráveis como vivem muitos dos nossos idosos, a começar pelo abandono, isolamento e solidão. A par disto, há uma pesada rede de pseudo lares e residências que mais parecem albergues de vão-de-escada, que arrumam e encaixotam seres humanos a magote.

A pandemia trouxe ao de cimo um fenómeno que todos conheciam e, não raramente, se fechava os olhos. Os lares clandestinos que nascem como cogumelos por todo o país e também na nossa região. Não se pode medir todos pela mesma bitola, mas é preciso fazer alguma coisa mais séria.

Há muitos anos que se convencionou tratar a geriatria como um cluster de grande crescimento no país, exatamente porque uma fasquia grande da nossa população está envelhecida e a esperança de vida é uma gigantesca conquista da ciência e do nosso Sistema Nacional de Saúde. Mas não pode crescer a todo o custo.

Estamos, agora, perante uma oportunidade decisiva para arrumar a casa, repensar o apoio ao idoso, nos lares e fora deles, e garantir-lhes um final de vida harmonioso. Separar o trigo do joio e impor regras mais duras, oferecendo a essa população as condições de vida que merece.

Raul Tavares
Diretor