Acompanhei de perto, nos anos 90, o caso das escórias de alumínio da Metalimex. Foi um processo com muito ruído e muitas entidades ao barulho.
Lembro que na altura foi criado um grupo de pressão com o objetivo de extraditar os resíduos perigosos para a Suíça, o lugar de origem. Cheguei a entrevistar, no local, os estrangeiros implicados no negócio com a empresa portuguesa que, aliás, detinha outros depósitos de lixos perigosos na Serra de São Luís, num dos corações da Arrábida. Esses resíduos, tonelada e meia, se bem me recordo, foram também deslocalizadas, por pressão, para Vale da Rosa.
Eram tempos complicados, em que a península de Setúbal dava os primeiros passos no tratamento dos seus lixos urbanos, onde proliferaram sucateiras à beira das estradas, e onde as lixeiras a céu aberto acomodavam tudo e mais alguma coisa, incluído lixo perigoso.
Não havia estações de tratamento a funcionar e a polémica incineração nos fornos da Secil arrastou-se demasiadamente no tempo, e ainda hoje divide opiniões.
Acredito que as escórias da Metalimex retornaram ao lugar de origem, sobretudo, porque foi muita a pressão sobre as tutelas ambientais e sobre os decisores políticos, pelo que vou pela tese de que a descoberta dos resíduos em Vale da Rosa, de que a associação ambientalista deu conta na última semana, não é desse tempo, nem do mesmo tipo. Aguardemos pelas análises e avaliação técnica.
O que importa refletir é como é que é possível que ainda ocorram, hoje, estes casos ambientais, que deixam em xeque todas as entidades com competência neste domínio?
Não se sabe quem os depositou, nem de onde vieram, muito menos quem os importou. Mas sabe-se que há empresas que continuam a trazer para a região e para o país este tipo de lixos perigosos sem rumo certo. Não é aceitável que depois de tanta regulação e de tantos avanços ainda se dê de caras com este tipo de crimes ambientais nas barbas das autoridades.
EDITORIAL
Raul Tavares
Diretor