Voltamos ao contributo a que mais de 150 pessoas deram corpo na evocação de Michel Giacometti no Museu do Trabalho que porta o seu nome, em Setúbal, na noite de 27 de Novembro de 2015, numa iniciativa promovida pela Associação Conquistas da Revolução em que actuaram o Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Música e os Grupos Corais Alentejanos “Os Amigos do Independente” e “Os Amigos dos Sadinos”, e tomaram a palavra Manuel Begonha, Militar de Abril e Presidente da ACR, Modesto Navarro, escritor e membro de Direcção da mesma, e Carlos Rabaçal, vereador da Câmara Municipal.
Na mensagem com que a Casa do Alentejo de Lisboa quis marcar presença, o etnólogo e musicólogo francês corso falecido havia 25 anos e sepultado a seu pedido em Peroguarda, no Concelho de Ferreira do Alentejo, era justamente considerado como precursor da atribuição pela UNESCO ao Cante Alentejano do Estatuto de Património Cultural Imaterial da Humanidade, havia exactamente um ano naquele dia. O texto lido sublinhava a frase de Giacometti: “Povo que canta não morrerá”.
No tempo da história falou-se ainda de duas datas.
A do falecimento, num outro 27 de Novembro, o de 1994, de Lopes Graça, o grande compositor português que conjuntamente com Michel Giacometti, a PIDE na peugada, gravou o incomensurável Cancioneiro de vozes sempre ao alto.
A de então havia 40 anos, quando os jovens do Serviço Cívico Estudantil, nos chamados tanques da Paz do MFA e sob a égide dos Governos de Vasco Gonçalves, 1º Ministro dos Trabalhadores e do Povo, como era tratado, se deslocaram aos campos e bordas-mar para deles trazeram as mãos cheias de ferramentas cujo acervo no Museu do Trabalho sadino é riqueza de Portugal.
Ora, talvez em antevéspera, no percurso entre a Palhavã e a União Setubalense, na entrega mão-a-mão dos folhetos de propaganda, e pelo que se vê não se agita só na rua, ainda assim foi na rua em descendente que a um condutor de uma carrinha nos dirigimos, sendo mais rigoroso dizer que ele próprio parara. Perguntamos de imediato se conhecia o homem, retratado: “Então, não fui sindicalista? Não era o do CDOC?”, reagiu, até um pouco zangado – e pela noite, foi ao Museu, sabia da poda.
Referia-se espantosamente ao Projecto do Centro de Documentação Operário-Camponesa que Giacometti almejava instalar em Setúbal, cidade escolhida por já de si ser acervo de concentração laboral e dessa outra consequência, de lutas. Num artigo de Francisco Lobo, nas épocas em causa Presidente da Câmara Municipal, explica-se que a alteração da correlação de forças política a nível nacional liquidou o desígnio, que não, contudo, o Museu sobranceiro à Baía do Sado.
Fácil de adivinhar, estamos a contribuir para a divulgação da inauguração no passado sábado, 4 de Julho, no mesmo sítio, da Exposição celebrando nem mais nem menos os 45 anos daquela epopeia, a manter-se até 26 de Setembro, na base sobretudo de documentação fotográfica. O Catálogo destaca uma frase de Virgínia Dias, essa cantadeira e poetisa de Peroguarda, nascida em 1936 (Canal Poesia You Tube Virgínia Dias Poema para Michel Giacometti), reproduzida pelo “Expresso” de 29 de Junho de 1996: “Tinha uma alma imensa, como uma planície, boa e dura como a terra, bonita como as papoilas e rica como o trigo”. Fácil de entender, dia antes, mera coincidência, dizemos nós, uma funcionária do Museu, costas apoiadas numa das colunas do Miradouro de São Sebastião, ali mesmo ao lado, mas de pernas estendidas no muro a meia altura de um corpo, tecia uma papoila.
Quem nos ajuda agora a apanhar o sindicalista?
Política e Cultura
Valdemar Santos
Militante do PCP