Indústria da península de Setúbal com carteira de 2,5 mil milhões para investir

Os responsáveis da AISET têm um programa de investimento de 2,5 mil milhões de euros e querem que o novo Plano de Recuperação e Resiliência do Governo contemple a península com fundos no valor de 1,2 mil milhões. A reconversão de desempregados é outra meta.

Os responsáveis do ministério do Planeamento estão a analisar a proposta da AISET – Associação Industrial da Península de Setúbal que defende, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, a injeção de 1,2 mil milhões de euros na região, para permitir um investimento total de 2,5 mil milhões projetados pelos industriais da península nos próximos cinco anos.

Segundo o Semmais apurou, o próprio ministro da tutela, Nelson de Souza, está a acarinhar essa possibilidade, até porque o cariz destes fundos visa “uma aposta forte no desenvolvimento regional”, enquadrado no reforço de autonomia das CCDR’s.

Este valor que a AISET reclama, que representa 10% do envelope de 12,9 mil milhões que o Governo pretende aplicar nos próximos seis anos de fundos extraordinários negociados em Bruxelas, “é essencial para este fluxo de investimento que a região precisa e que o tecido empresarial necessita para complementar com os seus investimentos”, explica ao Semmais Nuno Maia, diretor-geral da AISET.

Segundo o responsável, só esta injeção de fundos permitirá que a indústria da região invista a restante parte, nomeadamente na inovação produtiva, em indústria 4.0, internet das coisas e inteligência artificial, internacionalização, em fatores de competitividade e certificações de qualidade, eficiência energética, economia circular e investigação tecnológica”. Tudo isto de acordo com as exigências e apostas que Bruxelas impôs ao país para a aplicação das verbas em transição ecológica e digital, no quadro do Green Deal – Pacto Verde Europeu.

 

Perfil das empresas da região talhado para estes fundos

“As empresas industriais da península têm este perfil, porque precisam de descarbonizar mais e digitalizar mais”, afirma o dirigente, dando como exemplo as unidades siderúrgicas, cimenteiras, químicas, de pasta de papel, metalomecânicas e da indústria automóvel.

O problema coloca-se pelo facto de a península de Setúbal estar integrada na Área Metropolitana de Lisboa (AML), e perder, por essa razão, acesso e majorações no que toca a fundos europeus, como tem sucedido nos últimos quadros comunitários. “Com a manutenção desta situação, e se nada for alterado, estas grandes empresas, exportadoras e geradoras de emprego qualificado, não vão poder aceder aos fundos do Green Deal, e podem ver ameaçado o futuro da sua competitividade, a prazo, em relação a empresas de outras regiões do país e da Europa”, receia Nuno Maia.

Para suportar esta posição, a AISET lembra que a península “perde em cada quadro comunitário cerca de 2 mil milhões de euros”, o que tem levado, segundo Nuno Maia, “a um aumento do risco de deslocalização de empresas, até para regiões espanholas próximas das nossas fronteiras”, onde conseguem acesso a mais fundos.

Caso haja anuência por parte do Governo, a AISET diz tratar-se de “uma oportunidade única” e relembra o ano de 2009, quando a região ainda não estava integrada na AML e tinha acesso a fundos, altura em que atingiu, em formação bruta de capital só de indústria extrativa e transformadora, 491 milhões de euros, valor que sublinha Nuno Maia, “parece ser perfeitamente repetível a partir de 2021”.

 

Caixa

AISET pretende reconversão de 5% população ativa

A proposta da AISET contempla ainda a proposta da criação de um Subsídio de Desemprego majorado, com bolsa de formação, que permita qualificar, capacitar e converter desempregados de serviços, turismo e da própria indústria para as novas competências tecnológicas e digitais requeridas pelo impulso com que a União Europeia pretende alavancar a recuperação económica. “A região conta com boa capacidade formativa profissionalizante, politécnica e universitária e pode, em 4 ou 5 anos, reconverter cerca de 5% da população ativa”, cerca de 20 mil pessoas, esclarece Nuno Maia, que acrescenta: “A atual crise vai provocar um elevado nível de desemprego nas empresas da região e junto de trabalhadores que exercem as suas atividades na margem norte do Tejo, mas que vivem na península.