Buraco financeiro na Misericórdia de Portalegre pode atingir 500 mil euros

Bispo D. Antonino Dias exonerou corpos sociais depois de buscas efetuadas pelas Polícia Judiciária. Existem claros indícios de “lesão de bens patrimoniais”.

Pode ultrapassar os 500 mil euros o eventual buraco financeiro que terá sido detetado nas contas da Santa Casa da Misericórdia de Portalegre, cuja direção foi recentemente exonerada pelo bispo de Portalegre E Castelo Branco, D. Antonino Dias. Esta decisão foi tomada depois de a Polícia Judiciária, que há muito vinha recebendo denúncias sobre alegados crimes de gestão, ter efetuado buscas nas residências de alguns dos responsáveis e de ter iniciado peritagens no equipamento informático da instituição.

O Semmais Digital sabe que, até ao momento, nenhum arguido foi constituído. Essa situação pode, no entanto, ser alterada a qualquer momento, quando todos os documentos e meios informáticos acabarem de ser analisados. Para já, existem fortes indícios da prática de crimes, a começar logo pela inexistência da apresentação de contas relativas ao ano de 2019.

De acordo com o que foi possível apurar, as contas do ano passado não foram apresentadas porque, simplesmente, não foi encontrada parte da faturação devida. Em contrapartida, os inspetores da Judiciária terão descoberto nas instalações da Santa Casa faturas referentes a vestuário que havia sido doado. Tal significa, na prática, que alguém estaria a tentar incluir nas contas da instituição materiais que haviam sido ofertados, dando assim descaminho a verbas.

Também já terá sido possível apurar que nas residências de alguns dos elementos da direção agora exonerada existiam bens da instituição, nomeadamente peças de cariz religioso. Os investigadores descobriram também, que alguns computadores portáteis que haviam sido adquiridos em nome da Santa Casa da Misericórdia pura e simplesmente desapareceram.

Face às diligências efetuadas pelos inspetores da Judiciária, o Provedor da instituição, João Paulo Torres Pereira, acabou por apresentar a demissão do cargo. O mesmo terá sido solicitado por D. Antonino Dias aos restantes corpos gerentes, o que não veio a acontecer, tendo sido o próprio bispo a exonerá-los.

Para além da “lesão de bens patrimoniais muito evidente”, a antiga administração da Santa Casa da Misericórdia enfrenta outras acusações de gestão danosa e até de falta de prestação de cuidados de saúde adequados a alguns dos utentes. O Semmais sabe que recentemente a instituição foi condenada a pagar 70 mil euros à família de uma idosa que acabou por falecer por comprovada falta de cuidados.

Até que todas as contas estejam apuradas, o bispo de Portalegre e Castelo Branco resolveu nomear uma comissão administrativa, a qual é constituída por sete pessoas, onde se incluem juristas, médicos, contabilistas, economistas, técnicos de comunicação e cultura.