A ONG, que já teve quatro funcionários em permanência, conta agora apenas com um. Deixaram de se fazer trabalhos de campo, levantamentos arqueológicos e acompanhamento de estudantes.
Aos 48 anos de idade, celebrados no início deste mês, o Centro Arqueológico de Almada vive momentos complicados, com falta de dinheiro para desenvolver projetos, e sem pessoal para os executar. Os trabalhos de campo estão parados, assim como as atividades pedagógicas com a população estudantil do concelho.
Francisco Silva é o único sobrevivente das quatro pessoas que integravam o grupo coordenador do Centro Arqueológico. Os restantes, por falta de verbas, deixaram de ali trabalhar em permanência, dando lugar a um grupo de voluntários que vão apresentando alguns trabalhos para que a atividade não cesse por completo, atividades essas que passam, por exemplo, pela exibição de uma mostra de 48 fotografias (uma por cada ano de vida da instituição) ou pela elaboração da revista Al-Madan (que foi o antigo nome árabe de Almada).
“Durante o período de vigência do anterior executivo municipal tínhamos um subsídio anual de 10.000 euros. Agora recebemos, para a revista, 2.000 euros”, diz ao Semmais Francisco Silva, explicando depois que as restantes formas de subsistência são a quotização dos cerca de 300 sócios que ainda fazem os pagamentos e, também, as consignações de 0,5 por cento relativos ao IRS.
“Até 2018 ainda foi possível efetuar diversas atividades com os estudantes, que pagavam a sua participação. Acontece que nestas tarefas estavam envolvidas sempre três pessoas que eram remuneradas. Já nessa altura a receita era inferior à despesa e, quando cessaram os apoios, foi impossível mantê-las”, acrescentou o mesmo responsável.
Sem exposições e visitas, só o centro de documentação está acessível
Também as visitas guiadas, que muitas vezes envolviam as próprias juntas de freguesia, e as exposições temáticas terminaram. Agora, para quem está interessado, restam as visitas ao centro de documentação, na Cova da Piedade, onde ainda é possível consultar monografias sobre o concelho.
O dirigente do centro explica depois que uma das funções que estava a ser executada pelos técnicos era o levantamento arqueológico dos terrenos que iriam ser urbanizados, tarefa que era executada para a autarquia de Almada e que era paga, também, com a verba dos 10.000 euros anuais entretanto suspensa.
“Há muitos sítios arqueológicos que terão sido destruídos pelas urbanizações. Na zona da Ramalha, entre o Pragal e o centro Sul, construiu-se sobre locais de onde foi possível recuperar alguns vestígios, recolher algum espólio, mas que não foi praticável preservar. Era uma zona que tinha vestígios desde a ocupação Pré-Histórica até ao período islâmico”, refere Francisco Silva.
Sendo uma ONG (Organização Não Governamental), o Centro de Arqueologia de Almada aguarda agora que exista a sensibilidade suficiente para receber alguns apoios, como aquele que em tempos recebeu, por exemplo, do Instituto Português da Juventude.